Um suplemento oral que promete reduzir a celulite em 11,3% após cerca de dois meses de uso tem agitado as redes sociais. Chamado dimpless, a medicação manipulável é um ativo de ação anti-inflamatória e antioxidante que se propõe a reduzir e prevenir nódulos de gordura, fibrose e até cabelos brancos, e é amplamente usado para combater a celulite.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, o produto deve estar associado a reeducação alimentar e exercícios físicos para potencializar os resultados. Também faltam estudos conduzidos sem o patrocínio do fabricante, quesito ético que acaba afetando a comprovação de desempenho.
Além disso, o uso sem prescrição pode prejudicar as funções renais e hepáticas. Entenda como o dimpless funciona e a forma correta de consumo.
O que é o suplemento?
Dimpless é uma fórmula que tem como base o superóxido dismutase (SOD), substância extraída de uma variação francesa do melão de cantaloupe.
De acordo com a médica dermatologista Márcia Linhares, assessora do Departamento da Laser da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), “a ação antioxidante do Dimpless atua na redução do estresse oxidativo e da inflamação localizada, fatores que contribuem para o aparecimento e agravamento da celulite. Além disso, ele ajuda na degradação do excesso de gordura subcutânea e melhora a microcirculação”.
Sua manipulação em cápsulas contém 90% de SOD e 10% de outros antioxidantes. O ativo, segundo a nutricionista Jhenevieve Cruvinel é classificado como um “nutracêutico”, tipo de suplemento alimentar que contém compostos bioativos, vitaminas e minerais.
“Para que seus benefícios sejam efetivos o seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada, hidratação adequada, prática de atividade física e também à gestão da rotina para redução do estresse”, afirma Cruvinel.
Patenteado, o medicamento é encontrado tanto em farmácias de manipulação, onde a dose está prescrita por profissional de saúde, quanto em farmácias de alopatia. “É importante verificar se a farmácia produtora possui selo de verificação original para esse composto e registro Anvisa, para garantir a segurança no consumo e também seus efeitos e benefícios”, alerta Cruvinel.
Contraindicações
O dimpless é considerado seguro quando administrado na dose recomendada, que geralmente é de 40 mg por dia, conforme indicado pelo fabricante ou orientado por um profissional de saúde. No entanto, os resultados variam de acordo com fatores como idade, estilo de vida e grau da celulite e o composto é contraindicado para gestantes, lactantes e crianças.
“Pessoas com alergia ao melão ou com condições específicas de saúde devem consultar um médico antes de iniciar o uso. Para potencializar os resultados, pode ser interessante associá-lo a outros tratamentos tópicos ou procedimentos estéticos, dependendo das necessidades individuais”, afirma Linhares.
Outro ponto são os possíveis riscos colaterais. “Pacientes que já tem alterações da sua função hepática e na sua função renal devem ser prescritos com cuidado”, diz Brenner.
Como age na celulite?
A lipodistrofia ginóide, conhecida como celulite, é um incômodo estético que se manifesta como “covinhas na pele”, geralmente nas coxas, nos quadris e nos glúteos, sobretudo em mulheres. “Isso acontece principalmente por uma alteração da estrutura da gordura debaixo da pele”, explica Brenner. Esse aspecto irregular tem diversas causas, entre elas a genética, podendo estar correlacionada com alterações hormonais, acúmulo de gordura, ganho de peso, má circulação e retenção de líquido.
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O processo inflamatório consiste em três estágios: edema, fibrose e esclerose. Segundo a Bionova, uma das fabricantes do composto, o “SOD B Dimpless® é o único ingrediente ativo cientificamente demonstrado para atuar tanto contra a fibrose das fibras de colágeno quanto contra a hipertrofia das células de gordura”, causas do aparecimento da celulite.
Os testes em animais teriam confirmado a capacidade do produto de corrigir a hipertrofia das células de gordura.
Tem comprovação científica?
A Bionova divulga em seu site que os efeitos benéficos do SOD teriam sido relatados em mais de “50 mil trabalhos científicos, incluindo mil ensaios clínicos” nas últimas décadas.
A dermatologista Fabiane Mulinari Brenner, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), no entanto, diz que os resultados são controversos, uma vez que os estudos foram patrocinados pelo fabricante. “E a gente tem uma questão ética na avaliação deles. Existem alguns estudos do fabricante, mas não existe nenhum estudo multicêntrico na literatura médica que seja comparativo com outros ativos”, pondera a docente.
Como e quando usar?
O fabricante recomenda o uso de uma cápsula de 40 mg por dia, de forma contínua, por pelo menos 90 dias, podendo ser estendido conforme orientação médica.
Brenner lembra que o estilo de vida sedentário, alimentação rica em gorduras e carboidratos e fumo tendem a piorar a celulite. “A gente não consegue nenhum benefício no tratamento da celulite exclusivamente com suplementos. O que existe no mercado são coadjuvantes e tem um auxílio muito pequeno nas fases mais avançadas da doença”, afirma Brenner.
A docente recomenda que, para além de suplementação, haja sempre uma mudança do estilo de vida, bem como uso de terapias de drenagem linfática e tecnologias como radiofrequência, ultrassom e laser. “Nas fases iniciais, em que você tem uma discreta alteração estética, [a suplementação com Dimpless e outros] pode até colaborar, mas ela é limitada no seu resultado”, afirma Brenner.
Linhares afirma que o Dimpless é uma ferramenta interessante no cuidado com a pele, mas “não substitui um estilo de vida saudável nem tratamentos estéticos específicos quando indicados.”
Cruvinel destaca que o tempo de uso e dose precisam ser prescritos por um profissional nutricionista ou médico, baseado em exames físicos e bioquímicos e na estratégia de tratamento empregada. “Utilizar suplementos sem orientação profissional pode gerar interação com medicações e outras condições já pré-existentes de saúde podendo gerar danos à saúde no longo prazo”, alerta.
Brenner também reforça que pesquisas on-line sobre esse tipo de produto podem induzir ao erro. “Se você colocar no Google, vai ter inúmeros suplementos cada um sugerindo seus benefícios. Mas a gente não tem nenhuma evidência médica desses resultados”, diz Brenner.
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noticia por : UOL