O Reino Unido e a União Europeia assinarão nesta segunda-feira (19) uma redefinição histórica das relações pós-Brexit.
Uma concessão na área da pesca por parte do Reino Unido abriu caminho para um acordo abrangente, que será anunciado em uma cúpula em Londres, incluindo um pacto de segurança e defesa e a eliminação de grande parte da burocracia para as exportações agrícolas britânicas para a UE.
O Reino Unido concordou em manter suas áreas de pesca abertas para barcos da UE por mais 12 anos. Enquanto isso, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou um acordo veterinário que agilizará as exportações britânicas de produtos agrícolas e pesqueiros para o maior mercado do país, sem limite de tempo.
Economistas da Universidade de Aston estimam que as exportações agroalimentares do Reino Unido para a UE podem aumentar em mais de 20% como resultado do acordo veterinário.
As exportações de alimentos e bebidas do Reino Unido para a UE foram de £14 bilhões (R$ 106 bilhões) em 2024, segundo a Federação de Alimentos e Bebidas, grupo de lobby da indústria. A indústria pesqueira do Reino Unido representa apenas cerca de 0,03% da produção nacional britânica.
O acordo desta segunda-feira é um prêmio econômico muito almejado nas negociações de “redefinição”, enquanto o outro ponto central será uma parceria de segurança e defesa, abrindo caminho para uma cooperação mais estreita entre Reino Unido e UE em rearmamento e treinamento militar.
Ambos os lados estiveram envolvidos em intensas negociações durante a noite sobre os detalhes de sua relação renovada, incluindo pesca e comércio de alimentos, além da redação de um esquema proposto de mobilidade juvenil.
Starmer argumentou com sucesso que os dois lados deveriam continuar discutindo o esquema juvenil — incluindo a possibilidade de o Reino Unido retornar ao programa de intercâmbio estudantil Erasmus — em vez de fazer compromissos concretos na cúpula na Lancaster House.
Apesar das expectativas britânicas, o acordo de segunda-feira não incluiu disposições para permitir que cidadãos britânicos cruzem a fronteira para a UE de forma mais rápida, utilizando os portões eletrônicos de passaporte.
O bloco vinculou tal acordo, assim como novas regras para facilitar turnês de músicos britânicos, ao progresso na mobilidade juvenil, que permitiria que jovens adultos dos estados-membros estudassem e trabalhassem no Reino Unido e vice-versa.
Diplomatas da UE disseram que o texto final afirma que ambos os lados “trabalharão para” alcançar um acordo sobre a melhoria da mobilidade juvenil, prevendo meses de negociações. Eles descreveram o resultado como decepcionante, mas reconheceram que Starmer estava sob forte pressão doméstica sobre migração.
“Houve um avanço tardio na noite passada”, disse um funcionário britânico, após Reino Unido e estados membros da UE concordarem com um acordo antes da primeira cúpula entre as duas partes desde que o Brexit entrou em vigor em 2020.
Embaixadores dos 27 estados membros se reuniram na manhã de segunda-feira para aprovar o pacote, enquanto os líderes das instituições da UE se dirigiam a Londres para formalizá-lo.
Grupos pesqueiros no Reino Unido temem que o acordo de 12 anos sobre pesca corra o risco de se tornar permanente, e políticos conservadores da oposição e a imprensa eurocética já estão alegando que o setor foi traído.
Jonathan Reynolds, secretário de Negócios do Reino Unido, disse que o setor pesqueiro se beneficiará do novo acordo veterinário, argumentando que isso ajudará a vender peixe e frutos do mar para a UE. “Não se trata apenas do que você pesca, mas de para quem você vai vender”, disse ele.
Fontes do governo britânico informaram que ministros anunciarão nesta segunda-feira um “Fundo de Crescimento da Pesca e das Comunidades Costeiras” no valor de £360 milhões para investir em comunidades costeiras, na tentativa de conter a reação política.
Starmer também deve assinar o pacto de defesa e um comunicado prometendo uma cooperação econômica mais profunda durante uma reunião de duas horas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Esse acordo abrirá caminho para que o Reino Unido tenha acesso a um fundo de armas da UE de €150 bilhões (R$ 960 bilhões), embora os detalhes precisos sejam definidos posteriormente.
A cúpula UE-Reino Unido deve enfatizar um espírito de reconciliação, mas as negociações tensas em Bruxelas no domingo foram um lembrete de que o relacionamento agora é altamente transacional.
Os detalhes do acordo UE-Reino Unido são politicamente muito sensíveis.
O Reino Unido reconheceu que a remoção de barreiras ao comércio de alimentos exigirá que o país “alinhe-se dinamicamente” às regulamentações da UE à medida que mudam —e também faça pagamentos ao bloco para financiar trabalhos sobre padrões alimentares e animais.
Os detalhes do texto final serão publicados nesta segunda-feira, mas Starmer e seus interlocutores da UE enfatizarão as áreas de acordo em vez das tensões expostas pelas dolorosas negociações de última hora.
noticia por : UOL