Nações como Alemanha e Japão estão trabalhando para reforçar programas destinados a fornecer cerca de US$ 45 bilhões (R$ 259,3 bi) para ajudar países em desenvolvimento a abandonar combustíveis fósseis, à medida que os Estados Unidos recuam de papeis de liderança.
Conversas entre parceiros internacionais estão ocorrendo para manter o impulso nos acordos de Parceria para Transição Energética Justa (JETP, na sigla em inglês), firmados sob a administração do presidente Joe Biden, que visam Indonésia, Vietnã e África do Sul, segundo pessoas familiarizadas com os detalhes.
Em comunicado, o Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento disse que a Alemanha substituirá os EUA como co-líder dos esforços para garantir cerca de US$ 20 bilhões (R$ 115,2 bi) de apoio à transição energética da Indonésia, que ainda é dependente do carvão.
Os apoiadores globais dos programas JETP planejam avaliar o tamanho do potencial impacto financeiro se os EUA retirarem todo o apoio, disseram as pessoas, que pediram anonimato para falar sobre as deliberações privadas.
Uma reunião para revisar as perspectivas da iniciativa mais ampla, que inclui o acordo de cerca de US$ 15,5 bilhões (R$ 89,3 bi) do Vietnã e o pacote de US$ 9,3 bilhões (R$ 53,5 bi) da África do Sul, está sendo agendada e deve ocorrer neste mês ou em março, disse uma das pessoas. As discussões também considerarão as consequências para possíveis futuros acordos de financiamento com nações como a Colômbia, afirmou a pessoa.
“O impacto é gerenciável, desde que os outros países continuem”, disse Putra Adhiguna, diretor-gerente do Energy Shift Institute, um think tank focado na Ásia, com sede em Jacarta.
O presidente Donald Trump, no mês passado, interrompeu parte da ajuda financeira dos EUA destinada a ajudar países em desenvolvimento e de renda média a responder às ameaças das mudanças climáticas e iniciou o processo para se retirar do Acordo de Paris pela segunda vez, sinalizando a intenção da nação de renunciar a uma função na redução global de emissões.
Um recuo dos EUA da diplomacia climática, e como fonte de financiamento, ameaça levar novas complicações aos planos de transição energética justa. Os programas foram inicialmente vistos como um avanço quando concebidos em 2021 porque, em teoria, pelo menos, resolveriam uma questão crucial: como reunir dinheiro público e privado para tornar economicamente viável o afastamento de grandes nações em desenvolvimento dos combustíveis fósseis.
No entanto, os JETPs até agora têm lutado para entregar muitos dos objetivos esperados devido ao progresso lento nas iniciativas de financiamento, às mudanças de liderança política na Indonésia e no Vietnã, e à complexidade de fechar usinas que muitas vezes têm várias décadas de vida operacional restante.
Os programas também representam apenas uma fração do financiamento total necessário. O investimento anual em transição energética superou US$ 2 trilhões (R$ 11,5 tri) globalmente no ano passado, o que é apenas cerca de 37% do total necessário para colocar o mundo no caminho para emissões líquidas zero até 2050, mostrou um relatório da BloombergNEF de 30 de janeiro.
Eleições iminentes no Canadá, Alemanha e França também ameaçam somar mais obstáculos às perspectivas de acordos de transição energética justa.
“A UE continua comprometida, mesmo que um parceiro importante deste JETP —os EUA— não esteja mais conosco”, disse Diana Acconcia, diretora de assuntos internacionais e finanças climáticas da Direção Geral de Ação Climática da Comissão Europeia, na quarta-feira (5) em Jacarta, referindo-se ao acordo da Indonésia.
O Japão continuará a apoiar a descarbonização e a transição energética da Indonésia, disse o Ministério das Finanças em um comunicado por e-mail. O ministério das Relações Exteriores, que lida com o envolvimento do Japão no programa JETP do Vietnã, não recebeu informações sobre o futuro papel dos EUA e continuará apoiando os esforços de transição do país, segundo um comunicado individual.
Nações fora dos EUA e bancos globais “ainda estão comprometidos em encorajar a redução global de emissões“, disse Paul Butarbutar, chefe do Secretariado JETP da Indonésia, que supervisiona o programa no país.
“É lamentável que Trump tenha tomado tal política, mas os outros permanecem comprometidos.” Os EUA haviam prometido contribuir com cerca de US$ 2,1 bilhões (R$ 12,1 bi) em financiamento público para o acordo da Indonésia, quase um quinto do total para esse segmento, de acordo com um plano de investimento de 2023.
O presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, sugeriu que a nação poderia atingir emissões líquidas zero já em 2050, uma década antes das metas anteriores. A nação está discutindo com o Banco Mundial, Japão e outros parceiros como continuar com os planos do JETP, disse o ministro coordenador da Economia, Airlangga Hartarto, na quarta.
O Vietnã está finalizando uma lista de dezenas de projetos prioritários a serem implementados sob o JETP, segundo o governo.
A África do Sul “permanece totalmente comprometida” em implementar o programa de transição energética justa, lançado em 2021, e não foi informada sobre quaisquer planos dos EUA para encerrar a participação, disse a presidência do país. Alemanha e França já forneceram 1,5 bilhão de euros (R$ 8,9 bi) ao Tesouro da África do Sul através de seus bancos de desenvolvimento. Junto com outros parceiros, pagaram US$ 630 milhões (R$ 3,6 bi) em subsídios, dos quais US$ 55 milhões (R$ 316,9 mi) vieram dos EUA.
Um outro acordo de transição energética justa de 2,5 bilhões de euros (R$ 14,9 bi) para o Senegal, firmado em 2023, não envolve os EUA.
A incerteza sobre a posição dos EUA é uma preocupação, embora não impacte necessariamente a capacidade de outras nações de continuar com os esforços de financiamento, disse Rémy Rioux, diretor executivo da Agence Française de Développement, a agência através da qual a contribuição da França para o JETP da África do Sul está sendo canalizada. “É um grande estresse para todo o sistema”, disse ele.
Colaboraram Antony Sguazzin, Sheryl Tian Tong Lee, Eddie Spence, Nguyen Dieu Tu Uyen, Petra Sorge, Eko Listiyorini, Aaron Clark, Ishika Mookerjee and Grace Sihombin
noticia por : UOL