JÉSSICA LIMA
A arte, em suas diversas formas, sempre desempenhou um papel transformador na sociedade. Entre essas manifestações, a pintura se destaca como uma expressão acessível e profundamente impactante. Quando incorporada ao ambiente escolar, especialmente nas escolas públicas, ela pode mudar vidas, ajudando alunos a descobrir talentos, fortalecer a autoestima e ampliar suas perspectivas sobre o mundo.
A pintura é muito mais do que uma atividade lúdica; é uma ferramenta de autoconhecimento e expressão emocional. Para muitos alunos, principalmente aqueles inseridos em contextos de vulnerabilidade, pintar se torna um canal para externalizar sentimentos e narrar suas histórias. O ato de colocar no papel ou na tela as emoções e ideias que carregam oferece uma oportunidade única de compreensão interna e de validação pessoal. Eles descobrem que suas vozes podem ser ouvidas, mesmo que silenciosamente, por meio de traços e cores.
Além dos benefícios emocionais, a prática da pintura estimula o desenvolvimento cognitivo e social. Estudos mostram que atividades artísticas ativam áreas do cérebro relacionadas à criatividade, ao raciocínio lógico e à solução de problemas. Na escola, quando realizada de forma coletiva, a pintura promove também o trabalho em equipe, o respeito à diversidade e a empatia. Ao compartilhar pincéis e ideias, os alunos aprendem a valorizar diferentes perspectivas e a colaborar para alcançar um objetivo comum.
A arte também desempenha um papel crucial na redução das desigualdades sociais, especialmente quando introduzida em escolas públicas que atendem comunidades marginalizadas. Em um contexto onde muitas crianças e jovens enfrentam a falta de recursos básicos, a pintura surge como uma ferramenta capaz de nivelar oportunidades, oferecendo acesso a experiências enriquecedoras que não dependem de condições econômicas privilegiadas. Quando esses alunos têm a chance de explorar sua criatividade, eles desenvolvem habilidades que vão além do campo artístico, como resiliência, comunicação e senso crítico. Além disso, ao participarem de projetos artísticos que dialogam com sua realidade e cultura, os estudantes se sentem representados e valorizados, diminuindo a sensação de exclusão e promovendo um senso de igualdade. A arte, portanto, não apenas oferece uma voz aos mais vulneráveis, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Iniciativas como a criação de murais colaborativos, que envolvem alunos, professores e artistas locais, têm se mostrado eficazes em transformar não apenas os espaços escolares, mas também a dinâmica social entre os participantes. Um exemplo notável é o projeto “Cores da Escola”, realizado em várias comunidades do país, onde os alunos, ao criarem murais temáticos, exploram questões como cidadania, sustentabilidade e cultura local. Esses projetos não apenas embelezam os ambientes, mas também despertam o orgulho e a autoestima dos jovens, fortalecendo o vínculo deles com a escola e a comunidade.
Projetos de pintura em murais escolares ou espaços comunitários vão além do ambiente interno. Essas iniciativas transformam o espaço físico e geram um impacto direto na autoestima dos estudantes e na valorização da comunidade. Quando os alunos veem suas criações estampadas nos muros de suas escolas ou bairros, eles experimentam um senso de pertencimento e protagonismo. Tornam-se agentes de transformação, percebendo que suas ações têm o poder de melhorar o local onde vivem.
Outro ponto essencial é o potencial da pintura para revelar talentos. Muitos jovens, ao terem contato com as artes visuais na escola, descobrem uma paixão ou uma habilidade que não sabiam possuir. Esse despertar pode abrir portas para carreiras artísticas ou mesmo para o empreendedorismo no universo criativo. Ao proporcionar esses momentos, as escolas públicas oferecem a possibilidade de mudar trajetórias de vida, demonstrando que a arte também pode ser uma escolha profissional digna e realizável.
A arte, quando bem utilizada, tem o poder de transformar vidas. Inserir a pintura no cotidiano das escolas públicas não é apenas uma forma de enriquecer o currículo, mas um investimento no futuro de jovens que muitas vezes não encontram outras formas de expressão ou reconhecimento. Pintar é colorir histórias, dar vida aos sonhos e construir um futuro mais criativo e inclusivo. É nossa responsabilidade, como sociedade, garantir que essas cores cheguem a todos.
Jéssica Lima é graduada em Artes Visuais e atua como professora de arte, em pintura em tela e mural. Com ampla experiência no ensino e na prática artística, dedica-se a inspirar seus alunos a explorarem a criatividade e a transformarem espaços por meio da arte.
FONTE : ReporterMT
