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Cuiaba - MT / 31 de janeiro de 2025 - 11:53

“Oficina do Diabo” vai te fazer entrar em crise. E isso é bom!

Vou escrever sobre “Oficina do Diabo”, primeiro filme de ficção da Brasil Paralelo. Mas não quero entrar em discussões técnicas. Nem ficar com aquele papinho de cinéfilo chato (pleonasmo). Por dois motivos: tenho semancol e me falta credibilidade para analisar esse filme. Afinal, sou amigo do roteirista Elton Mesquita e conheço várias pessoas envolvidas no projeto.

Eventuais elogios a “Oficina do Diabo”, portanto, seriam vistos como bajulação. O que me levaria a tentar equilibrar os comentários elogiosos com alguns apontamentos cruéis. Só para “provar que sou independente” ou que “essa coisa de admirar o trabalho dos amigos não me afeta”, sabe como? O fato é que me afeta e por isso não vou fingir uma isenção que não tenho.

Pequenas tentações cotidianas

Dito isso, quero destacar apenas duas cenas de “Oficina do Diabo”. Filme que, como disse no título, me fez entrar em crise. Assim como já tinha acontecido quando li “Cartas do Diabo ao Seu Jovem Aprendiz”, de C. S. Lewis, obra que inspira a produção nacional. É que, como diz o frei Gilson numa peça publicitária, “Oficina do Diabo” retrata algo que nos acontece todos os dias. É assustador.

Me refiro às tentações. Mais especificamente, às pequenas tentações. Aquelas às quais cedemos por descuido, quando nos esquecemos de que compartilhamos de uma mesma e famigerada herança: o pecado original. Somos orgulhosos, você sabe. Às vezes nos colocamos como rivais dos nossos semelhantes e de Deus. E o diabo está sempre ali para nos incentivar.

O poder da ficção

A primeira cena que destaco no roteiro de “Oficina do Diabo” é a da palestra na livraria. Porque é assim que o diabo seduz os distraídos: convencendo-os de que a razão os torna divinos. O detalhe é que na mesma cena o filme sugere uma alternativa ao maléfico poder das teorias políticas e sociológicas: a ficção.

A ficção? Sim, a ficção que alguns cristãos tanto desprezam e consideram “perda de tempo”. Porque só ela, a ficção, é capaz de fazer com que assumamos nossas muitas falhas e, por isso mesmo, perdoemos as muitas falhas dos nossos semelhantes. A ficção – e é claro que estou falando da boa ficção, não das peças de propaganda política disfarçadas de ficção – une e nos torna mais tolerantes, mesmo com os mais idiotas ou abjetos dos personagens.

Cacofonia, ruído, desordem, caos

A outra cena é a que provocou a crise. Nela, o demônio e seu pupilo estão presentes a um concerto de música erudita. Em meio à música, o demônio mais experimente, o mestre do aspirante a aliciador de almas, diz que é graças à cacofonia, ao ruído, à desordem, ao barulho, ao caos que o mal age. É na balbúrdia que o diabo triunfa.

Além de bonita, a cena é perturbadora. Porque vivemos tempos de cacofonia, de ruído, de desordem, de barulho e de caos. E às vezes (daí a crise) temo estar contribuindo, mesmo que sem querer, para a perpetuação dessa balburdia demoníaca. Espero que não. Rezo para que não. Mas tenho medo e quando esse medo aparece sonho em me recolher a uma caverna e ficar lá bem quietinho, esperando a vida passar.

Safado

É exatamente isto o que o diabo quer: que nos omitamos de enfrentar o caos. Que nos protejamos do ruído. Que nos desesperemos diante da desordem. Tudo para que, ao fim e ao cabo, nos eximamos de fazer o bem neste mundo. Safado. Se bem que aí é que está o maior mérito de “Oficina do Diabo”: é um filme cheio de oportunidades para entrarmos em crise e, assim, reafirmarmos nossa fé.

noticia por : Gazeta do Povo

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Cuiaba - MT / 31 de janeiro de 2025 - 11:53

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