As contrições de Gilvan são breves. Na terça passada, afirmou:
“Na época em que esse ex-presidiário [o presidente Lula] foi preso, eu estava na Polícia Federal, e chovia (sic) ataques à PF pelo pessoal do PT. Por exemplo, da senadora Gleisi Hoffmann. Hoje, elogiam a PF porque temos um diretor-geral petista. Na Odebrecht, existia uma planilha de pagamento de propina a políticos. Eu citei aqui o nome Lindinho e Amante, que devia ser uma prostituta do caramba. Teve até deputado que se revoltou. Ou seja, a carapuça serviu.”
Para registro: Gleisi e Paulo Bernardo — seu ex-marido, que também foi deputado e ministro — foram absolvidos pelo STF em 2018. Outas denúncias referentes à Lava Jato foram arquivadas. Os interessados podem fazer uma pesquisa, apelando a fontes confiáveis, para obter detalhes. Prestem, no entanto, atenção a um aspecto: qualquer que fosse a situação jurídica da ministra, os termos de Gilvan são inaceitáveis e violam o Código de Ética.
Afirma a representação da Mesa da Câmara, encabeçada por Motta, que Gilvan praticou “condutas incompatíveis com o decoro parlamentar”, com “manifestações gravemente ofensivas e difamatórias contra deputada licenciada para ocupar cargo de ministra de Estado, em evidente abuso das prerrogativas parlamentares, o que configura comportamento incompatível com a dignidade do mandato”. O relator do caso é o deputado Ricardo Maia (MDB-BA), que escreveu ainda: “Trata-se de medida legítima, proporcional e necessária, que visa preservar a dignidade da representação parlamentar e zelar pela integridade da instituição legislativa perante o povo brasileiro”.
Assinam também a representação o primeiro vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ); o segundo vice, Elmar Nascimento (União-BA); o primeiro-secretário, Carlos Veras (PT-PE); o segundo secretário, Lula da Fonte (PP-PE), a terceira secretária, Delegada Katarina (PSD-SE), e quarto secretário, Sergio Souza (MDB-PR). Mesmo que aprovada no Conselho de Ética, a suspensão preciso do endosso da maioria absoluta da Casa: 257 votos.
FREIO DE ARRUMAÇÃO
Se Motta não meter o pé no freio de arrumação, há, sim, o risco de descontrole. Ora, depois de o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) ter comparado a ministra a uma “garota de programa” — sugerindo que ela, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), seu marido, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) formam um trisal –, Gilvan achou que poderia dar mais um passo. Há uma espécie de disputa na lama para saber quem diz a coisa mais asquerosa.
Até onde eles podem chegar? Temos visto que a baixaria de hoje é sempre superior à da véspera e inferior à de amanhã, numa escalada da indignidade. O bruto pode ter pensado: “Ora, se, até agora, não aconteceu nada com Gayer, por que não testar um novo limite?”
noticia por : UOL