Um dos maiores entretenimentos na vida de um menino no interior de São Paulo na década de 1940 era ir para a estação de trem e ver os passageiros que passavam pela cidade. Foi uma dessas tardes que mudou para sempre a vida de José Maria Papin.
Um padre, que passava pela cidade de Bernardino de Campos (a 326 km da capital paulista) e havia perdido o trem ficou preso na estação até que chegasse uma nova composição. O menino José, então, começou a conversar com o religioso e acabou sendo convencido a entrar para um seminário.
“Ele era só um menino curioso, que gostava de conversar com pessoas desconhecidas. Mas encontrou esse padre que despertou nele a vocação pela vida religiosa e o encaminhou para o seminário. Aquela conversa mudou a vida daquele menino”, conta Wilson Gava, amigo de Papin por mais de 35 anos.
Filho de lavradores e com cinco irmãos, Papin deixou o interior para entrar no seminário e depois foi concluir os estudos em Bolonha, na Itália, onde foi ordenado padre. Depois entrou para a ordem dos dominicanos e passou a ser conhecido como frei Papin.
Ao retornar ao Brasil, foi designado padre na paróquia de São Judas, em Goiânia (GO), onde trabalhou por mais de 20 anos. Com um carisma que despertava a atenção de todos, Papin foi convidado para ter um programa diário em uma televisão local.
Ele então foi transferido para a cidade de São Paulo, para trabalhar na paróquia Sagrada Família, no Jardim da Saúde, na zona sul. “Quando o Papin chegou, a igreja era pequenininha, cabiam no máximo umas cem pessoas. Ele encabeçou o projeto da nova igreja, pensou em tudo e arquitetou muito bem a nova paróquia.”
Preocupado com a catequização de novos fiéis, o frei pediu aos engenheiros que construíssem a igreja em dois pavimentos. O de cima foi reservado para as missas e cerimônias. O de baixo, para salas de aula de catequese e crisma. “Ele conhecia as necessidades da igreja e ajudou a fazer uma paróquia que atendesse o que a comunidade precisava.”
Fanático pelo Palmeiras, sempre ia assistir aos jogos do time do coração na casa de Wilson. “Nós sofríamos juntos. O Palmeiras era a maluquice dele”, lembra o amigo.
Papin celebrou o casamento de Wilson e batizou seus dois filhos. “Ele era uma pessoa muito atenciosa, preocupada. Quando foi celebrar nosso casamento na igreja de Santa Terezinha, em Higienópolis, ele parou a cerimônia. Estavam jogando pétalas, que era um costume da paróquia, e ele pensou que a igreja estava caindo”, lembra o amigo.
O frei trabalhou por mais de 30 anos na igreja da Sagrada Família até que se aposentou e foi morar em Goiânia, em uma casa onde os dominicanos acolhem padres após a aposentadoria.
Ele morreu no último dia 23 de fevereiro, em decorrência de uma pneumonia. Ele deixa muitos amigos e fiéis de todas as igrejas pelas quais atuou.
noticia por : UOL