Jorge Antonio Derosa Jr. era ocupado e rápido lembrando a locomotiva da ferrovia que corta parte da cidade de Mairinque, no interior de São Paulo, onde ele vivia havia 12 anos. Foi ator, produtor cultural, presidente da Associação Mairinquense de Preservação Ferroviária e vice-presidente da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) do município.
Seu amigo Carlos Perez o define como “o ateu mais cristão do que muitos cristãos convictos” e alguém que enfrentava desafios com alegria e determinação. Também era admirado por equilibrar suas atividades para estar com a filha Samantha, de quatro anos.
“Cuidava de tudo com muito carinho, dava banho, fazia papinha, um pai maravilhoso”, diz Perez.
Gaúcho de Porto Alegre, crescido em São Paulo, Derosa foi para Mairinque acompanhar a mulher, Carolina Helena Araújo dos Santos Derosa, que é gerente na Caixa Econômica Federal.
Em 2015, tornou-se uma voz ativa no Fórum Permanente de Cultura de Mairinque, onde conheceu Perez. Algum tempo depois, a dupla participou do 1° Manifesto Cultural da cidade, movimento que buscava a implementação de políticas públicas para o setor.
Para financiar espetáculos de teatro, começou a inscrever seus projetos via leis de incentivos culturais. Percebendo essa habilidade para a parte burocrática dos espetáculos, fundou a Derosa Produções, que auxiliava pequenos grupos a obter subsídios por meio de editais públicos.
Entre as peças das quais participou estão as montagens de “Os Boêmios de Adoniran”, “Velório à Brasileira” e a releitura da peça “A Condessa de Marsay”, originalmente encenada na cidade pelo Grupo Dramático de Mayrink, em 1906.
Além do teatro, Jorge Derosa lutava pela preservação da história local, especialmente o patrimônio ferroviário da cidade, onde vagões da antiga Fepasa (Ferrovias Paulista S/A) resistem ao abandono.
Junto com o amigo, conseguiu regularizar o funcionamento da Associação Mairinquense de Preservação Ferroviária e a transformaram em uma entidade defensora do patrimônio histórico, cultural, material e imaterial da cidade.
“Nos últimos dez anos, acredito que, depois da esposa, fui a pessoa com quem ele mais passou tempo regularmente”, afirma Perez.
Na manhã de sua morte, abriu a sede da associação, conversou com Perez e saiu para levar a filha à escola. Derosa sofreu um infarto fulminante na volta para casa no dia 28 de março, aos 56 anos.
noticia por : UOL