Esta é a edição da newsletter Tudo a Ler desta quarta-feira (18). Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo:
Tudo a Ler
Receba no seu email uma seleção com lançamentos, clássicos e curiosidades literárias
Chega o fim de dezembro e, com ele, a tradição de rever os principais acontecimentos do ano.
A Folha divulgou nesta terça a lista em que quatro críticos elencam os 20 melhores livros de ficção lançados em 2024.
A partir dessa seleção, podemos engatar uma breve retrospectiva do que houve no mundo literário, com despedidas como a de Paul Auster, que deixou o elogiado “Baumgartner”, e outros autores que deram continuidade a trabalhos célebres.
O norueguês Jon Fosse, ainda embalado pela glória do Nobel de 2023, lançou diversos livros no Brasil; o romeno Mircea Cartarescu se transformou num alter ego antiliterário no tijolão “Solenoide”; e Jeferson Tenório, que publicou “De Onde Eles Vêm”, segue como o grande romancista a pautar o racismo brasileiro.
Também vimos ascender fenômenos literários promissores. Odorico Leal faz uma estreia celebrada com as deliciosas “Nostalgias Canibais” e a poeta Adelaide Ivánova soa tão nova quanto ancestral no seu épico “Asma”.
Os eventos literários cumpriram seu papel de lembrar autores que não podem ficar fora de nossas estantes. Camila Sosa Villada foi à Feira do Livro no Pacaembu lançar três livros ao mesmo tempo, todas obras que rejeitam o coitadismo imposto a mulheres trans como ela. Emanuele Arioli esteve na Bienal do Livro para contar da sua descoberta de um texto medieval perdido há 700 anos. E Evandro Cruz Silva foi à Flip discutir seu sensível “O Embranquecimento”.
Acabou de Chegar
“Nem Mesmo os Mortos” (trad. Silvia Massimini Felix, DBA, R$ 104,90, 480 págs.) para o crítico Alex Castro, é um forte concorrente ao título de “grande romance latino-americano”, mesmo tendo sido escrito pelo espanhol Juan Gómez Bárcena. O livro explode fronteiras, segundo o resenhista, tirando seu título de uma citação de Walter Benjamin: “Se o inimigo vencer, e ele não para de vencer, nem mesmo os mortos estarão a salvo, pois a história será reescrita, as lutas, apagadas, e os derrotados, esquecidos”.
“Sobre o Cálculo do Volume 1 e 2” (trad. Guilherme da Silva Braga, Todavia, R$ 69,90 e R$ 49,90 (ebook) cada) são os dois primeiros volumes da septologia da dinamarquesa Solvej Balle. A saga inteira se passa em um único dia, 18 de novembro, data que a protagonista é obrigada a reviver no estilo do filme “Feitiço do Tempo”, com Bill Murray. Mas, segundo o crítico Gabriel Rocha Gaspar, diferentemente do clássico noventista, Balle propõe uma série de reflexões filosóficas sobre como nossa vida é regida pelo hábito de contar o tempo.
“Good Pop, Bad Pop: Um Inventário” (trad. Daniel de Mesquita Benevides, Terreno Estranho, R$ 135, 368 págs.) é uma autobiografia atípica para um rockstar do calibre de Jarvis Cocker. O vocalista da banda de britpop Pulp se revela um sujeito metódico que foge ao clichê do sexo, drogas e rock’n’roll. “Não espere revelações bombásticas”, afirma o crítico André Barcinski. Em vez disso, conhecemos o sonho realizado de um adolescente que sabia exatamente a banda que queria ter.
E mais
“Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é”, escreveu a família de Dalton Trevisan sobre o lendário vampiro de Curitiba, que morreu na segunda-feira passada, dia 9, e foi objeto de intensa cobertura da Folha.
Excêntrico e mitológico, um dos maiores contistas do país vivia escondido, fugindo de câmeras e entrevistas, enquanto sua obra era reconhecida nacional e internacionalmente. Vencedor de Jabutis e do Camões, o mais prestigioso reconhecimento a autores de língua portuguesa, Trevisan provocava seus leitores.
Para a curadora Ana Lima Cecilio, Trevisan “inventou uma linguagem, um léxico, uma sintaxe”. Para o jornalista Manuel da Costa Pinto, bastavam poucas palavras para o autor contemplar um universo infernal e asfixiante. E para o tradutor Caetano W. Galindo, perceber a imortalidade de Trevisan ajuda a contornar o luto, afinal, ele ainda vive em cada detalhe da Curitiba que ele próprio criou.
Apesar da reclusão, alguns tiveram a sorte de cruzar o caminho do autor. O romancista Cristovão Tezza conheceu Trevisan em um café em 1968, época em que o escritor falava mais com as pessoas. Quando ainda era estudante de jornalismo, Fernando Granato publicou um texto sobre a tarde que passou com o autor em 1986 e em troca foi “homenageado” com o conto “Chupim Crapuloso”. Em 2015, o jornalista Cristiano Castillo conseguiu tirar fotos do Vampiro de Curitiba em frente a sua casa, mas um telefonema do próprio Trevisan para o jornal impediu que Castillo as publicasse.
Além dos Livros
Na última semana, uma premiação na Academia Rio-Grandense de Letras foi ofuscada por um comentário de cunho racista. Airton Ortiz, presidente da instituição, afirmou que o cenário literário do Rio Grande do Sul era pródigo por causa da imigração italiana e alemã, enquanto em outros estados ocorreu a “imigração escrava”. Ao ouvir isso, Eliane Marques, uma das autoras premiadas da noite, subiu ao palco, acusou a fala de inadequada e racista e exigiu uma retratação pública.
Os plaquetes estão voltando ao mercado editorial e autores de peso como Ruy Castro e Heloisa Seixas embarcaram na tendência. Segundo a reportagem de Paula Jacob, a publicação de poucas páginas volta a ser interessante para editores e escritores por sua versatilidade e por permitir que histórias menores e novos autores cheguem a um público maior.
O romancista e diplomata Edgard Telles Ribeiro foi eleito para a cadeira de número 27 da Academia Brasileira de Letras, antes ocupada pelo poeta Antonio Cicero, que morreu em outubro deste ano. “Eu sou um soldado que está ingressando numa grande instituição”, afirmou o novo membro da ABL. Mais cedo neste ano, Telles Ribeiro já havia se candidatado para a cadeira nove, mas a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz foi mais votada na ocasião.
noticia por : UOL