Anúncio

Cuiaba - MT / 19 de maio de 2025 - 12:06

Kleber Mendonça Filho, em Cannes, defende a regulação do streaming no Brasil

Kleber Mendonça Filho, que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes com “O Agente Secreto”, defendeu a regulamentação do streaming a jornalistas, nesta segunda-feira (19).

“Precisamos cuidar da nossa produção e da nossa distribuição. O Brasil precisa organizar o que o mercado de streaming deixa para o cinema brasileiro”, disse ele, que usou como exemplo o modelo da França para a taxação das plataformas. No país europeu, a verba mais generosa coletada pela lei é revertida para a produção interna de filmes.

Segundo o diretor, que venceu o prêmio do Júri por “Bacurau” na edição de 2019 do festival, o Brasil vive um momento próspero para o cinema —e não pode deixar a peteca cair. Segundo ele, os filmes precisam ter uma boa janela de exibição nas salas de cinema antes de ir para o streaming.

“Fico feliz que esse filme [‘O Agente Secreto’], depois de ser completamente explorado na sala de cinema, seja visto no streaming. Mas precisamos ter a implementação de um circuito que seja democrático e com ingressos acessíveis, não de R$ 110 e com pipoca trufada.”

A exibição de “O Agente Secreto” na Croisette acontece dois meses após “Ainda Estou Aqui” faturar o primeiro Oscar para o Brasil, o que colocou a produção nacional novamente sob os holofotes do mundo. “Não dá para não falar de ‘Ainda Estou Aqui’. É um filme que conectou o cinema brasileiro com o seu público depois de anos de falácia, de mentira e ataque a classe artística”, disse Wagner Moura, no dia anterior.

Em comum, os filmes de Walter Salles e Mendonça Filho contam histórias de pessoas que tentam preservar a memória de acontecimentos passados e sobreviver em meio à repressão da ditadura militar. Diferente de “Ainda Estou Aqui”, porém, a trama de “O Agente Secreto” não é centrada na relação dos personagens com o regime.

“Não é coincidência que o Brasil tenha produzido dois filmes que falam da memória histórica de um tempo que tem efeitos concretos no presente”, disse Mendonça Filho. “O Brasil sofre de amnésia autoaplicada pela Lei da Anistia, proposta pelo próprio governo militar que desde 1964 tinha cometido incontáveis atos de violência contra a população. Essa amnésia causou um trauma na psicologia do Brasil, e foi normalizado cometer qualquer tipo de violência, para depois passar um pano e recomeçar do zero.”

Wagner Moura, que protagonizou o filme, disse ainda que decidiu trabalhar com Mendonça Filho durante o governo de Jair Bolsonaro. “O Brasil vivia um momento difícil, com características autoritárias em que a universidade, a imprensa e os artistas estavam sendo atacados. Nos reunimos para entender como poderíamos nos posicionar como artistas.”

“O Agente Secreto” mostra a jornada de Armando, pesquisador jurado de morte que volta ao Recife para recomeçar a vida. Como é de praxe na direção de Mendonça Filho, elementos fantásticos começam a aparecer na trama, quase como materializações da imaginação coletiva. O diretor disse que se inspirou nas leituras matinais da sessão policial do jornal pela sua mãe, nos anos 1970.

Na mesma época, jornalistas inventavam histórias metafóricas para driblar a censura da ditadura militar e transmitir a notícia aos leitores. “Isso começou a virar fábula de realidade. A união do mundo que a gente vive com a fábula é algo que acho fascinante”, disse o diretor. “Quando você entra em um lugar escuro, você tem medo. Nada realmente acontece, mas o seu medo é real”.

noticia por : UOL

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Anúncio

Cuiaba - MT / 19 de maio de 2025 - 12:06

LEIA MAIS

Anúncio