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Cuiaba - MT / 29 de janeiro de 2025 - 14:26

Fernanda Torres pede desculpas por blackface. Quem disse que o woke morreu?

Xi. Então quer dizer que nesta nossa época de ideias e atitudes imperdoáveis algum espírito-de-porco foi lá e desencavou um vídeo em que Fernanda Torres interpreta uma empregada doméstica com a cara toda pintada de preto: o famoso blackface. Algo imperdoável para os militantes identitários de cuja aprovação Fernanda Torres tanto depende. Coitada.

Como resultado, já há quem diga que o tão aguardado Oscar de melhor atriz went up to the roof. Ou subiu no telhado, pra ti que não fala inglês. E é bem capaz mesmo. Afinal, essa gente não perdoa e basta um ressentimentozinho mal curado para que o aliado da vez se transforme num repugnante inimigo representante das classes historicamente opressoras. Aquele blá-blá-blá todo que você já conhece e cujo bafo podre Fernanda Torres agora está sentindo no cangote.

Dorminhoco

Diante do oh-escândalo, Fernanda Torres pediu desculpas e eu vou aproveitar o embalo para também confessar que, em 1989, num dia chuvoso na praia, éramos adolescentes entediados jogando “dorminhoco”. Distraído que sou, perdi muitas e muitas partidas e, como resultado, saí com a cara toda pintada com uma rolha queimada. Naquela época, racismo nem passava por nossas cabeças. Se há comprovação fotográfica do episódio, não sei. Em todo caso, desculpe.

Confissões de adolescente (e faz tempo, hein!) à parte, o fato é que o blackface de Fernanda Torres, bem como o pedido de desculpas e o Oscar que subiu no telhado, revelam aspectos interessantes desta nossa sociedade que até ontem, por ocasião da posse de Donald Trump, estava celebrando a morte da famigerada cultura woke. Tolinhos.

Nem sei direito…

Um primeiro aspecto que nem sei direito como explorar para uma plateia tão reativa à autorreflexão é o da inveja. Sim, a inveja de quem quer que tenha procurado o vídeo em que Fernanda Torres interpreta uma emprega negra – com o evidente intuito de prejudicá-la. Se foi alguém da esquerda identitária, tudo bem. Digo, “tudo bem” coisa nenhuma! Mas a gente até entende que essas pessoas são movidas pela inveja, pelo ressentimento e pela exaltação do grupo, e que não sentem nenhum remorso em sacrificar uma branca bem-nascida. Tudo pelo bem da causa.

Agora, se foi alguém de direita… Que pena eu sinto de alguém que, para expor a hipocrisia, nela precisa se chafurdar desavergonhadamente. De alguém que não vê problema nenhum em usar as mesmas armas de um inimigo nada nobre e responsável por tanto sofrimento. De alguém que perdeu a oportunidade de ser melhor do que o adversário. (Tomara que não tenha sido você).

Espírito de alcaguete

Mas o que mais chama a atenção no episódio é a resiliência da cultura woke – essa mesma que semana passada tinha gente considerando morta e enterrada. Qual o quê! Diria até que o caso do blackface de Fernanda Torres revela que toda a sociedade está contaminada por um espírito de alcaguete empenhado em apontar qualquer sinal de impureza ideológica – tanto à esquerda quanto à direita.

Não, a cultura woke não acabou. Pelo contrário! Ela está tão entranhada no nosso modo de pensar que transita com relativa suavidade entre esquerda e direita das mais variadas matizes. Sempre tendo em mente o ideal inalcançável de uma sociedade sem um passado do qual se arrepender – e com o qual aprender.

Nem queria mesmo

A cultura woke só estaria morta se, diante de uma revelação como essa do blackface de Fernanda Torres, ela própria não se importasse. Desse de ombros. Risse o seu riso mais charmoso e seguisse com a vida. Ou, se viesse a público, que fosse para dizer que fez, fez mermo e a cena ficou engraçada e ninguém morreu por causa disso e se alguém for tirar dela o Oscar por causa de uma bobagem de décadas atrás, que se dane. Nem queria mesmo.

E eu até acredito que um dia chegaremos ao ponto de rir deste nosso momento histórico ridículo. Riremos dos delírios comunistas e mais ainda das sandices identitárias. Mas não será hoje nem amanhã. Infelizmente.

noticia por : Gazeta do Povo

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Cuiaba - MT / 29 de janeiro de 2025 - 14:26

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