Em seus cadernos de anotações, o próprio cirurgião detalha seu modus operandi: as vítimas eram agredidas ou estupradas quando estavam sozinhas, dormindo ou em coma, em seus quartos, na sala de cirurgia ou na sala de recuperação após uma operação. Os atos geralmente eram cometidos sob o pretexto de procedimentos médicos, pois Joel Le Scouarnec operava regularmente em casos de apendicite. “Como médico, ele fez um juramento e traiu ao máximo as obrigações desse juramento”, enfatiza Cécile de Oliveira, advogada de várias vítimas.
Em milhares de páginas, além dos detalhes de seus atos, o cirurgião indicava a data e o local da agressão e o primeiro nome da criança. Esses relatos eram escritos sob forma de uma carta para a vítima, muitas vezes terminando com um “Eu te amo”.
No decorrer de suas investigações, a polícia cruzou os nomes das crianças com os registros dos locais onde Le Scouarnec havia trabalhado e conseguiu identificar as vítimas que, na maior parte dos casos, não sabiam que haviam sido agredidas, pois estavam anestesiadas.
“Normalmente, são as vítimas que procuram o departamento de investigação para reclamar. Nesse caso, é o contrário: foram os departamentos de investigação que descobriram a existência de vítimas que, às vezes, foram informadas pela polícia que haviam sido tocadas, agredidas sexualmente ou estupradas”, explicou em entrevista à RFI o juiz Ronan Le Clerc, que conduz o processo.
Conselho de medicina criticado
“Médicos agressores, estupradores. O Conselho de Médicos é cúmplice”, dizia uma faixa exibida em frente ao tribunal, pouco antes do início do julgamento. Cerca de 30 manifestantes formaram com letras a frase “Pare a lei do silêncio”.
noticia por : UOL