O empresário latino-americano demora mais a adotar tecnologia e quando se arrisca, a inovação é feita de forma incompleta, com poucas empresas conseguindo chegar à fronteira tecnológica.
A avaliação é de William F. Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe.
Para ele, ao se deparar com seus colegas do exterior, o empresário da América Latina descobre que demora muito mais para adotar tecnologias do que, por exemplo, seus pares na Polônia ou na Coreia do Sul e que os setores não se desenvolvem de forma homogênea.
“Há uma empresa ou duas que estão na fronteira tecnológica, distantes do resto do setor. E mesmo dentro das empresas que adotam as novas tecnologias, talvez só metade as use em toda a sua estrutura interna. É uma inovação muito incompleta”, avalia o executivo, ao conversar com jornalistas em um evento promovido pelo banco em Montevidéu, no Uruguai.
Ele ressalta que o foco nas capacidades tecnológicas e gerenciais dos empresários é uma habilidade que deve ser cultivada para identificar novas tecnologias, sem ignorar os riscos associados na implementação de projetos de longa duração.
“Mas também é muito difícil trabalhar em um ambiente de negócios em que há uma carência de fatores de produção. Como, por exemplo, inovar quando 25% das empresas na América Latina dizem que não podem crescer por falta de mão de obra qualificada? É muita coisa.”
Um estudo publicado pela instituição, sobre o uso de tecnologia em países em desenvolvimento, lembra que o setor de ponta em que o Brasil se destaca, o agronegócio, precisou contar com as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) ao longo das últimas décadas para ter um motor de desenvolvimento.
No documento de 2022, os especialistas do Banco Mundial apontam que as principais empresas no Brasil do setor agroindustrial estão relativamente mais próximas dos destaques empresariais da Coreia do Sul que a manufatura brasileira.
“Isso sugere que, em alguns países em desenvolvimento onde as exportações agrícolas são importantes, o agronegócio está mais perto da fronteira da inovação que a indústria tradicional”, diz o relatório.
Maloney aponta, como via para aumentar a inovação nas empresas latinas, o aumento da interação entre universidades e o setor privado.
“Na América Latina, tendemos a enxergar nos países nórdicos fontes de capital social fantástico, mas eles também enfrentavam os nossos problemas de desarticulação das universidades com o setor privado. Uma coisa que fizeram foi, primeiro, estabelecer que uma das missões das universidades é exatamente trabalhar com a sociedade e o setor privado”, diz.
Ele menciona que esses países buscaram redirecionar para outras áreas recursos que antes eram diretamente dedicados às universidades enquanto forçavam a criação de programas de financiamento conjunto com o setor privado. “Então, se antes o departamento de engenharia tinha um orçamento tal, agora ele precisa buscar uma parceria com uma empresa como a Nokia.”
Apesar do cenário internacional desafiador para as empresas brasileiras, com a perspectiva de um comércio mundial mais incerto em 2025 e a reedição da guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Maloney também vê oportunidades.
Uma delas é o chamado “nearshoring” —transferência de operações e negócios para países mais próximos geograficamente. Em 2023, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) estima que o movimento poderia elevar as exportações da América Latina e do Caribe em US$ 78 bilhões (R$ 454,7 bilhões) por ano.
“O Brasil tem uma força de trabalho enorme e um mercado interno muito expressivo também. Mas também é difícil trabalhar no Brasil, pelo excesso de burocracia e obrigações. Eu diria que o país tem muito trabalho a fazer para que seja um destino óbvio para o ‘nearshoring’.”
O repórter viajou a convite do Banco Mundial
noticia por : UOL