Um QR code adesivado em um banco da igreja lembra aos devotos de que não é necessário ter dinheiro na bolsa para fazer uma doação —é só usar o celular, dispositivo que está nas mãos de mais de 160 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pelo mesmo aparelho, é possível acessar serviços básicos de saúde com o aplicativo SUS Digital, agendar atendimentos em órgãos públicos e realizar a prova de vida de aposentados e pensionistas de forma online pelo gov.br. O celular permite também conectar-se com familiares e amigos que não estão fisicamente presentes, além de encontrar grupos de afinidade e apoio.
A lista de práticas sociais, econômicas e culturais transformadas pelas tecnologias digitais é imensa, com impacto direto sobre como exercemos nossa cidadania.
Hoje, a participação ativa e informada na sociedade, de modo a entender deveres e usufruir plenamente de direitos, passa pelo acesso à internet e pela possibilidade de usá-la de forma crítica, consciente e segura. Daí a relevância de contemplar a educação digital e midiática também na formação dos adultos e em iniciativas como o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos (EJA), lançado pelo governo em parceria com universidades.
Em um de seus eixos, desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com o MEC e a Cátedra Unesco de EJA, o programa prevê a “formação de formadores” vinculados às redes municipais de educação em três áreas consideradas transversais: linguística, linguagem matemática e linguagens tecnológicas.
“A gente defende que as tecnologias possam ser exploradas de uma forma crítica. Não que ele [aluno] tenha a tecnologia como a solucionadora de todos os problemas, mas que compreenda essa tecnologia como algo que pode auxiliar, que pode facilitar a vida dele”, afirma a professora da UFPB Daniele Dias, segundo informações da Agência Brasil.
Ter a oportunidade de entender a cultura digital e dela participar de maneira crítica é especialmente importante para o público da EJA, que não pode cursar ou concluir a educação básica na idade condizente. Trata-se de um grupo heterogêneo, de jovens adultos a idosos, que não desenvolveu uma série de habilidades e pensamento crítico necessários para navegar com mais segurança e autonomia em um mundo cada vez mais conectado.
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Tal situação amplifica vulnerabilidades ao prejudicar seu acesso ao mercado de trabalho, informações confiáveis, serviços básicos e vários outros direitos.
O Censo Escolar 2024 mostra que o Brasil tem muito a avançar nesse segmento, com uma população de mais de 9 milhões de analfabetos com mais de 15 anos de idade. São pessoas menos preparadas para usufruir do que as tecnologias têm de positivo e, ao mesmo tempo, mais suscetíveis às suas armadilhas, como a proliferação de desinformação ou golpes financeiros. Sua inclusão digital é urgente.
noticia por : UOL