O nervosismo dos investidores sobre o estado das finanças públicas dos EUA resultou na maior queda semanal do dólar desde o anúncio das tarifas do “dia da libertação” de Donald Trump ter abalado os mercados no início de abril.
A moeda norte-americana caiu 0,9% na sexta-feira (23) na comparação com uma cesta de pares, incluindo o euro e o iene. O movimento levou seu declínio semanal para 2%, a maior queda em seis semanas, enquanto o projeto de lei tributária de Trump aumentou as preocupações sobre os crescentes níveis de dívida dos EUA.
O movimento ocorreu enquanto alguns investidores questionam se devem reduzir suas enormes posições sobrecarregadas em ativos em dólar, devido a preocupações com políticas erráticas e a guerra comercial do presidente norte-americano.
“Temores persistentes sobre a qualidade dos mercados de ativos dos EUA e a ameaça de desdolarização continuam pesando sobre o dólar”, afirmou Chris Turner, chefe global de pesquisa de mercados da ING.
Ele citou dados recentes indicando saídas de ativos do país, bem como uma declaração dos ministros das finanças do G7 na quinta-feira que mencionou “desequilíbrios macroeconômicos globais insustentáveis”.
“Parecia uma clara referência aos grandes superávits comerciais asiáticos com os EUA”, comentou Turner.
Na sexta-feira (23), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, tentou minimizar as preocupações dos investidores sobre o enfraquecimento do dólar.
“Acho que muito disso é devido a outros países se fortalecendo, ou outras moedas ganhando força, em vez do dólar enfraquecendo”, avaliou o secretário em entrevista à Bloomberg TV. Uma “expansão fiscal” na Europa estava impulsionando o euro, disse Bessent, enquanto os aumentos das taxas de juros do Banco do Japão estão apoiando o iene.
As apostas de que alguns países asiáticos possam fazer acordos comerciais com os EUA que incluam medidas para fortalecer suas taxas de câmbio contra o dólar americano têm apoiado uma série de moedas, incluindo o won coreano e o dólar taiuanês nas últimas semanas.
“Preocupações renovadas dos investidores sobre as perspectivas fiscais dos EUA, juntamente com especulações de que a administração Trump está buscando enfraquecer o dólar em discussões com outros países, contribuíram para a venda”, comentou Lee Hardman, analista sênior de moedas do grupo bancário MUFG.
A ansiedade dos investidores de que o projeto de redução de impostos de Trump possa piorar o déficit dos EUA alimentou uma venda de dívida do país de longo prazo esta semana, arrastando outros mercados para baixo.
O cenário elevou o rendimento do Tesouro de 30 anos em 0,13 ponto percentual esta semana, acima de 5%.
“A preocupação dos investidores com o crescente fardo fiscal dos EUA está aumentando lentamente”, disseram analistas do BBH.
O dólar caiu este ano à medida que os investidores ficaram preocupados com o impacto das amplas tarifas de Trump na economia dos EUA. Isso incluiu períodos de queda ao mesmo tempo em que os títulos do governo americano e as ações estão caindo, o que tem sido interpretado como um sinal de investidores se desfazendo de ativos em dólar. Normalmente, rendimentos mais altos aumentam a atratividade dos ativos em dólar.
“O mais preocupante é como o dólar está reagindo às altas taxas dos EUA”, indicou Michael Metcalfe, chefe de estratégia macro da State Street Global Advisors.
“Quando moedas e preços de títulos se movem na mesma direção, isso reflete uma queda na sustentabilidade da política”, acrescentou, dizendo que a quebra nas correlações usuais “faz você pensar que há algo mais estrutural em jogo”.
Analistas da RBC BlueBay Asset Management afirmaram que esperam que o enfraquecimento do dólar continue à medida que os investidores buscam proteger sua exposição ao dólar no curto prazo e repensam uma “superalocação estrutural” nos EUA no longo prazo.
noticia por : UOL
