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Cuiaba - MT / 20 de abril de 2025 - 18:39

De novo o bode na sala: reforma eleitoral ou distração?

No último dia 7 de abril, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu a volta do debate sobre a mudança do sistema eleitoral, propondo um modelo misto que combina dois métodos de escolha de deputados: o majoritário e o proporcional.

Trazer esse tema à tona em ano ímpar —quando ainda é possível aprovar mudanças com validade para a próxima eleição— virou rotina no anedotário político nacional.

Até pouco tempo atrás, discutia-se o “distritão”, sistema esdrúxulo apoiado por nomes como Eduardo Cunha e Arthur Lira. Agora, Motta resgata o modelo preferido dos tucanos: o misto.

Mas qual “sistema misto”? O modelo mexicano, mais fácil de entender e popular entre leigos? O alemão, o único verdadeiramente proporcional, mas que permite flutuação no número de cadeiras no Parlamento? Ou o escocês, que evita flutuação mas não corrige totalmente as distorções do voto distrital?

Se você não sabe, provavelmente o nobre deputado também não.

Chamados pela bibliografia especializada de “sistemas de membro adicional”, esses modelos buscam unir o melhor dos dois mundos: a proximidade entre eleitos e eleitores proporcionada pelo voto distrital e a justiça na distribuição de cadeiras entre os partidos, oferecida pela regra proporcional. Essa combinação também reduz a fragmentação partidária quando comparada a um sistema exclusivamente proporcional, mas manteria incentivos para que os partidos se organizem nacionalmente, apresentando plataformas claras.

O componente proporcional também cumpre um papel fundamental na representação de eleitores cujas preferências não se baseiam em questões localistas, mas em valores ou causas programáticas —como foi, por exemplo, o caso dos partidos verdes na segunda metade do século 20, que conseguiram eleger representes graças a esse tipo de sistema.

Ainda assim, os sistemas mistos não são simples. Num país em que muitos dizem que os eleitores não entendem nem o sistema proporcional atual, será essa a reforma mais urgente?

Além disso, sua adoção exigiria mudança constitucional —exceto, talvez, no modelo alemão, que respeita a proporcionalidade final.

Mais importante que o modelo, cabe perguntar: qual o problema que se quer resolver, a suposta distância entre representantes e representados? Ora, a política brasileira é justamente criticada pelo seu excessivo personalismo.

Por outro lado, a reforma aprovada em 2017 —que acabou com coligações proporcionais e instituiu cláusulas de desempenho— já vem combatendo a fragmentação. Em apenas um ciclo, a queda no número de partidos foi expressiva. Com o aumento da cláusula para 2,5% em 2026 e 3% em 2030, a tendência é cair ainda mais.

Enquanto isso, temas centrais seguem ignorados, como a aprovação do novo código eleitoral e as regras de distribuição dos recursos públicos eleitorais. Por que continuar permitindo que a cúpula dos partidos controle sozinha o destino dos bilhões do fundo público eleitoral? Em 2022, foram R$ 4,9 bilhões.

Por que não discutir uma regra mista também aqui, combinando a vontade das direções partidárias com alguma influência da sociedade? O modelo alemão, mais uma vez, pode inspirar.


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noticia por : UOL

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Cuiaba - MT / 20 de abril de 2025 - 18:39

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