Uma banana foi arremessada em direção ao banco de reservas do Sport durante um jogo do Campeonato Brasileiro Feminino nesta segunda-feira (31). A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pediu punição ao Internacional de três jogos com portões fechados fora de Porto Alegre, até o julgamento definitivo do possível ato racista.
Por meio de nota, o Internacional diz que identificou o responsável pelo arremesso.
O arremesso de banana aconteceu durante o empate em 2 a 2 entre os dois times em jogo realizado no Sesc Campestre, em Porto Alegre, pela terceira rodada do torneio. O jogo estava nos acréscimos do segundo tempo quando a banana foi jogada no campo.
“A CBF informa que enviou de imediato toda a documentação à Procuradoria-Geral do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) cobrando apuração rigorosa dos fatos. A entidade pediu também punição preventiva ao clube gaúcho, caso seja confirmada a agressão racista. No pedido de abertura do inquérito, a CBF requereu que o Internacional cumpra três partidas de portões fechados fora da capital gaúcha até o julgamento da questão”, diz a CBF.
A TV Brasil, que transmitia o jogo, registrou o momento em que a quarta árbitra Andressa Hartmann recolheu o pedaço de banana.
O Sport repudiou “a atitude covarde e racista de um torcedor do Sport Club Internacional”. “Esse ato repugnante é uma clara manifestação de racismo e intolerância, e não pode ficar impune. O Sport Club do Recife não tolera qualquer forma de discriminação ou preconceito e exige a punição exemplar do responsável.”
O clube pernambucano também informou que “o diretor de futebol feminino do clube, Alessandro Rodrigues, dirigiu-se a delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência e aguarda os desdobramentos do caso, incluindo a responsabilização do envolvido”.
O Internacional externou “seu repúdio veemente a qualquer ato discriminatório e reafirma seu compromisso inegociável na luta contra todas as formas de preconceito”.
Ivandro Morbach, vice-presidente do Conselho de Gestão do Inter, disse em entrevista à RBS TV que uma jogadora da base do clube foi a responsável por jogar a banana. O contrato dela foi rescindido.
“Buscamos as imagens, apuramos o fato. Infelizmente aconteceu um gesto que partiu de uma atleta da base recém-chegada ao Sport Club Internacional. Imediatamente, ontem à noite a atleta já foi comunicada do seu desligamento, hoje pela manhã foi efetivada a rescisão do contrato, era um contrato ainda de formação. Uma resposta na hora do clube que não tolera, não relativiza, não normaliza qualquer episódio que fere de morte os valores do Spot Club Internacional como, por exemplo, qualquer ato discriminatório”, disse.
Para o pesquisador Marcelo Tonini, o arremesso da banana está diretamente associado à prática de racismo. “Se isso não for considerado um ato racista, não sabemos mais o que é”, diz o pesquisador do Centro de Referência do Futebol Brasileiro do Museu do Futebol.
“O racismo é complexo e não acontece apenas entre torcedores, jogadores e atletas, pode acontecer entre os mais variados atores do esporte, como jornalistas, dirigentes e árbitros”, diz Tonini, que tem experiências nas áreas de Sociologia do Esporte e Relações Étnico-raciais.
O pesquisador do Museu do Futebol também afirma que é preciso uma conscientização ativa dos clubes junto aos atletas. “Os clubes têm responsabilidade social, não é apenas a formação do atleta. É preciso pensar na formação do cidadão. O letramento racial é uma necessidade para diminuir esses casos”, diz.
O letramento racial, diz, deve ser algo permanente nas equipes esportivas. “É preciso um programa de reeducação. A atleta está banida do time, mas pergunto se isso resolve o problema do racismo e se faz com que a pessoa aprenda com o erro que cometeu. Não seria mais apropriado um programa de reeducação, participação em ações sociais e antirracistas?”, indaga.
noticia por : UOL