Nascida em Teresina, Luna Bastos, 29, usa o bordado para expor o que sente e entrar em contato com diferentes formas de expressar sua identidade. A representação da mulher negra e o constante diálogo entre passado e presente, dentro de simbologias afro-brasileiras, são alguns dos temas que a artista explora em suas obras.
Recentemente, um de seus trabalhos foi escolhido para ilustrar uma edição especial do livro “A Contagem de Sonhos“, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie —o bordado de Luna é capa da edição do romance que faz parte do clube de leitura da TAG Livros. “Foi uma honra. É o tipo de coisa que eu não imaginava quando eu comecei”, diz ela sobre a participação na edição.
Para a Luna, o vai e vem das linhas do bordado, exemplifica, de forma poética, a importância de manter uma conexão com saberes antigos. O gesto é visto por ela como uma maneira de olhar para trás não apenas para resgatar conhecimentos que foram perdidos, mas para transformá-los, criando novas possibilidades a partir do que já existia.
Luna vê sua atuação como uma resposta às representações negativas que recaem sobre as mulheres negras, por isso, um de seus objetivos é criar novos referenciais visuais e simbólicos. Ela diz fazer “um trabalho de formiguinha” para construir as imagens de mulheres e meninas negras que gostaria de ver, propondo uma nova forma de contar sua própria história.
Ela começou a se interessar por arte na rua, ainda adolescente, quando teve contato com o grafite. Ela diz ter se encantado com a ideia de se comunicar com a cidade usando a paisagem urbana para expor sentimentos e ideias. Mas o caminho até se tornar artista não foi simples. “Venho de uma família pobre, então, a expectativa era que eu estudasse para ter uma vida diferente das minhas avós, por exemplo, que eram costureiras. Demorou um tempo para eu entender que conseguiria viver disso e conquistar coisas com a arte.”
Primeiro, veio o desenho. O bordado chegou depois, em 2020, na tentativa de experimentar novos materiais, e se tornou uma parte central do trabalho da artista. “Encaro o bordado como uma pintura, cada linha é uma pincelada. E, a partir de um ponto simples, eu consigo fazer símbolos complexos e texturas.”
Atualmente a artista tem obras expostas na mostra “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”, em cartaz no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador. A exposição, feita em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), fica em cartaz até 31 de agosto e reúne mais de 150 obras, de artistas de diferentes gerações, que abordam a identidade negra em diversas linguagens.
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noticia por : UOL