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Cuiaba - MT / 5 de junho de 2025 - 3:29

A liberdade de expressão está por um fio no Reino Unido

A cada dia surgem novas confirmações de que o vice-presidente norte-americano J.D. Vance estava certo: a Europa enfrenta um grave problema relacionado à liberdade de expressão. E, em nenhum lugar, essa situação parece pior do que no Reino Unido.

De acordo com uma reportagem da emissora norte-americana Fox News, Julian Foulkes, um policial especial aposentado de 71 anos, residente em Kent, na Inglaterra, processou a polícia local — instituição à qual serviu por mais de uma década — por sua prisão, que considera injusta, em novembro de 2023.

Foulkes foi detido após publicar, na rede social X (antigo Twitter), um comentário em que criticava uma multidão antissemita que, segundo ele, havia tomado conta de um aeroporto na Rússia. Ele escreveu: “[Estão] A um passo de invadir Heathrow em busca de judeus recém-chegados…”.

Essa crítica ao antissemitismo motivou a polícia a realizar uma busca em sua residência. Os agentes vasculharam seus pertences, com especial interesse em seus livros e revistas, entre eles uma obra do escritor conservador Douglas Murray e exemplares da revista britânica The Spectator, tradicional publicação de orientação liberal-conservadora.

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Durante a busca, um dos policiais comentou que o material possuía “muita coisa relacionada ao Brexit” — referência à saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada em referendo popular em 2016 e, desde então, incorporada à legislação do país.

Segundo a Fox News, “a polícia apreendeu seus dispositivos eletrônicos e deteve Foulkes por oito horas, antes de emitir uma advertência formal — um instrumento jurídico britânico que permite evitar o processo judicial mediante o reconhecimento da infração”.

Posteriormente, a polícia pediu desculpas pelo episódio, que muitos qualificaram como “orwelliano”, em alusão à obra distópica de George Orwell. Contudo, o fato de as autoridades considerarem legítimo interpelar e deter um homem por uma publicação em rede social — que, ademais, condenava o antissemitismo — revela a gravidade da situação.

Casos como esse tornaram-se tão frequentes que até mesmo a tradicional revista britânica The Economist, de orientação liberal-progressista, admitiu recentemente que J.D. Vance estava correto: a Europa e, em particular, o Reino Unido enfrentam, sim, um problema sério relacionado à liberdade de expressão.

Em muitos casos, esse problema parece ligado à postura das elites europeias, que defendem políticas de migração amplas e, por vezes, irrestritas.

Um exemplo emblemático é o de Lucy Connolly, mãe de três filhos, que foi condenada a quase três anos de prisão por “incitação ao ódio racial”. Seu pedido de redução da pena foi negado.

Connolly havia publicado no X, poucas horas após Axel Rudakubana — filho de imigrantes ruandeses — cometer um massacre a facadas, matando três crianças: “Deportação em massa agora. Incendeiem todos os hotéis cheios de gente de merda, por mim; e, enquanto estão nisso, levem os políticos traiçoeiros do governo junto. Me sinto fisicamente doente só de pensar no que essas famílias [de Southport] terão que suportar agora. Se isso me torna racista, que seja”.

Apesar de ter removido a postagem após algumas horas e apresentado um pedido de desculpas, Connolly foi presa e, posteriormente, condenada.

A publicação foi indubitavelmente agressiva. Mas muitos consideram um despropósito condenar alguém a anos de prisão por tal manifestação.

O caso chamou a atenção da Casa Branca e está sendo monitorado pelo Departamento de Estado norte-americano, segundo o jornal britânico The Telegraph. Como diversos analistas apontaram, é alarmante que Connolly tenha recebido pena tão severa, enquanto criminosos sexuais, como pedófilos e estupradores, muitas vezes são condenados a penas inferiores.

Esse episódio evidencia um problema adicional: o Reino Unido não apenas restringe cada vez mais a liberdade de expressão, como parece operar um sistema de justiça penal com tratamento desigual em função de critérios étnicos ou políticos. Marchas antissemitas podem percorrer as ruas de Londres com palavras de ordem como “matem os judeus”, sem que os participantes sejam punidos.

Quando o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, foi questionado sobre o caso Connolly, alegou desconhecê-lo, reafirmou seu compromisso com a liberdade de expressão, mas destacou ser contrário à incitação ao ódio.

Nos Estados Unidos, a legislação sobre incitação exige a presença de instruções explícitas e imediatas para a prática de atos violentos. Assim, uma condenação como a de Connolly seria interpretada como uma violação flagrante da Primeira Emenda à Constituição norte-americana, que garante ampla liberdade de expressão.

Episódios como esse reforçam, segundo muitos observadores, a ideia de que a Revolução Americana — que resultou na independência dos Estados Unidos e na elaboração de sua Constituição — foi uma iniciativa acertada.

Além disso, crescem as preocupações sobre o impacto extraterritorial das legislações britânicas de controle da liberdade de expressão, sobretudo no que se refere às plataformas de mídia social, muitas delas com sede nos Estados Unidos.

Durante uma reunião, em fevereiro, entre Keir Starmer e o ex-presidente Donald Trump, a jornalista Elizabeth Troutman Mitchell indagou Trump sobre as violações à liberdade de expressão no Reino Unido e seus possíveis efeitos sobre cidadãos norte-americanos.

O vice-presidente J.D. Vance respondeu em nome de Trump: “Embora os Estados Unidos mantenham uma relação especial com o Reino Unido e com os aliados civis europeus, há violações graves da liberdade de expressão ocorrendo do outro lado do Atlântico”. E acrescentou: “É claro que o que os britânicos fazem em seu próprio país depende deles, mas isso afeta também as empresas de tecnologia americanas e, por extensão, os cidadãos americanos”.

O primeiro-ministro britânico também se pronunciou: “Temos liberdade de expressão há muito, muito tempo no Reino Unido, e ela continuará existindo por muito, muito tempo. Não, certamente não queremos perseguir cidadãos americanos. Isso é absolutamente correto. Mas, em relação à liberdade de expressão no Reino Unido, tenho muito orgulho de nossa história”.

De fato, o Reino Unido possui uma tradição mais robusta de proteção à liberdade de expressão do que a maior parte da Europa continental e do mundo. Contudo, diferentemente dos Estados Unidos, jamais adotou um dispositivo constitucional análogo à Primeira Emenda, que garante expressamente essa liberdade fundamental.

Tal ausência parece, para muitos críticos, um erro. Pior ainda: o país parece estar abrindo mão dessa tradição em nome de valores como a “tolerância” e o multiculturalismo.

A trajetória recente do Reino Unido em relação à liberdade de expressão é preocupante. Está-se construindo um sistema em que o debate pode ser silenciado, a ofensa pode ser instrumentalizada como ferramenta para censurar concidadãos e questões importantes deixam de ser discutidas abertamente, o que, paradoxalmente, pode aumentar a probabilidade de violência.

Resta torcer para que a sociedade britânica desperte e exija de seus líderes a responsabilidade pela preservação das liberdades civis, cuja perda, cada vez mais evidente, é inaceitável.

©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: Free Speech Is on Life Support in the UK

noticia por : Gazeta do Povo

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