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Cuiaba - MT / 16 de janeiro de 2025 - 14:57

À espera de reféns, familiares estão com nervos 'à flor da pele' em cessar-fogo considerado 'frágil'


Após 15 meses de guerra, Israel e o Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo em Gaza, que também prevê a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos, mas ainda há questões não resolvidas. Israelenses protestam contra o governo em 1º de setembro de 2024 após a confirmação da morte de mais 6 reféns em Gaza
REUTERS/Florion Goga
Após 15 meses de guerra, Israel e o Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo em Gaza, que também prevê a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos. Mas ainda há questões não resolvidas, conforme o gabinete do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que espera que soluções sejam encontradas nas próximas horas.
As famílias dos reféns se encontram com os nervos à flor da pele, seja daqueles incluídos na primeira parte do acordo, ou restantes, cujo destino ainda é incerto.
A família Sharabi perdeu quatro membros desde 7 de outubro de 2023. Nesse momento, eles aguardam o retorno de Elie, o único suposto sobrevivente. “Faremos de tudo para trazê-lo de volta”, diz Sharon, seu irmão, em Israel.
“Antes de mais nada, este é um momento muito intenso na história do país, depois de uma jornada muito longa, difícil e exaustiva de quase 16 meses. Este não é apenas um evento particular para nossa família. É uma celebração para todo o povo israelense”, disse Sharon Sharabi à RFI.
Originário do Iraque, Shlomo Mantzur, 86 anos, é o mais velho dos reféns. Sua irmã, Hadassah, diz que está “cheia de fé e esperança”.
“Estamos no meio de uma enxurrada de emoções até que tudo acabe. Ainda não acabou! Enquanto não pudermos ver Shlomo aqui, enquanto não pudermos abraçá-lo, não conseguirei me acalmar”, declarou.
Apesar da intensa emoção, a palavra de ordem para as famílias é cautela, uma vez que a fragilidade do acordo de cessar-fogo é um consenso entre as famílias dos reféns.
Os números da guerra
A guerra, que começou em 7 de outubro de 2023 com um ataque mortal do Hamas contra Israel, deixou mais de 1.200 pessoas mortas naquele dia. Entra, posteriormente, nessa contabilidade o número devastador de 46 mil palestinos mortos em Gaza por bombardeios israelenses.
Os 467 dias de guerra devastaram totalmente o enclave palestino. Em Deir el Balah, no centro da Faixa de Gaza, Louay, como todos os habitantes de Gaza, espera impacientemente que o cessar-fogo entre oficialmente em vigor.
“Há um milhão e 500 mil pessoas deslocadas aqui em Deir el Balah e na zona humanitária. Estamos no meio da noite e as pessoas ainda estão nas ruas comemorando o anúncio do cessar-fogo”, declarou à RFI.
“Alívio”
Para Denis Charbit, professor de ciência política da Universidade Aberta de Israel, “é um alívio”.
“Um alívio misturado com covardia, porque 33 dos 98 reféns foram libertados, mas isso significa que ainda restam dois terços deles nas mãos do Hamas, vivos ou mortos, sem nenhuma informação sobre eles. (…) Eu diria, aliás, que a atenção em Israel esta noite está dividida, mas exclusivamente focada na libertação iminente desses 33 reféns, e absolutamente não no fim dos combates. Isso é significativo para todas as famílias israelenses que têm seus filhos como reservistas ou soldados do contingente. A atenção está exclusivamente centrada no sofrimento de um terço dessas famílias, que deve chegar ao fim nas próximas semanas”, aponta Charbit.
Cenas de celebração em Gaza
O fim de um pesadelo que durou 467 dias, durante os quais mais de 46 mil palestinos perderam a vida e 2 milhões foram deslocados, quase toda a população do enclave. Gaza se encontra hoje devastada por dezenas de milhares de toneladas de explosivos lançados pela aviação israelense. “Esta é a minha terra, meu país. Vamos reconstruir tudo o que foi destruído”, confidenciou Abu Mohamed à RFI.
“Estou realmente feliz. Estaria mentindo se dissesse o contrário. Sou um deslocado de Shuja’iyya, na cidade de Gaza. Minha casa foi destruída. E agora, com este acordo, sinto que finalmente poderei voltar para casa. Sim, perdemos tudo: minha casa, as casas dos meus irmãos e parentes. Mas vou montar minha tenda sobre as ruínas da minha casa. Voltarei para casa, custe o que custar”, sublinhou.
Do lado israelense, este acordo não é aprovado por todos – a extrema-direita o rejeita completamente, denunciando-o como “uma capitulação”.
Para as famílias dos reféns, a preocupação ainda prevalece. O acordo inicia um período de cessar-fogo de 42 dias, uma primeira etapa durante a qual 33 reféns israelenses serão gradualmente libertados. No entanto, ainda há cerca de 100 israelenses em cativeiro em Gaza, e não se sabe quantos estão vivos.
Prima encontrada morta em um túnel 
Gil Dickman é uma figura importante entre as famílias de reféns em Israel. Sua prima, Carmel Gat, foi encontrada morta em um túnel em Gaza em agosto.
“Sinto muita tristeza. Penso que minha prima também poderia ter sido libertada, mas este acordo não foi alcançado a tempo para ela. Por isso, fico feliz pelas famílias dos reféns que em breve reencontrarão seus entes queridos. Mas também estou muito preocupado com os reféns que não estão incluídos neste acordo. Há 65 pessoas cujo destino não foi mencionado. Conversei ontem com o primeiro-ministro Netanyahu, e ele disse que continuaremos os esforços para trazê-los de volta”, declarou à RFI.
Nesta quinta-feira (16), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de negar certos pontos do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e anunciou que seu governo não validaria o projeto até que recebesse garantias de que o grupo palestino os havia aceitado.
“O Hamas está negando partes do acordo firmado com os mediadores e Israel em uma tentativa de extorquir concessões de última hora”, disse Netanyahu em um comunicado. “O gabinete israelense não se reunirá até que os mediadores notifiquem Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo”, acrescentou o premiê.
Mais de 70 pessoas morreram na Faixa de Gaza desde o anúncio do acordo entre Israel e o grupo terrorista Hamas por um cessar-fogo na guerra no território, informou o serviço de emergência da Defesa Civil de Gaza nesta quinta-feira (16).
“Não temos luz, então as ruas não estão iluminadas. A maioria das pessoas ainda não se atreve a sair para comemorar o cessar-fogo. O perigo ainda está presente. O cessar-fogo foi anunciado, mas não sabemos exatamente quando entrará em vigor. Portanto, presumo que a guerra ainda não acabou. E ainda estamos ouvindo explosões à distância. Provavelmente os israelenses ainda estão mirando em determinados alvos”, afirma palestino.
“Não há certeza”
O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, disse à rádio RTL nesta quinta-feira (16) que “não há certeza” sobre o destino dos dois reféns franco-israelenses que ainda estão presos na Faixa de Gaza, Ofer Kalderon e Ohad Yahalomi.
“Há muitos meses, não temos notícias deles. (…) Esperamos sinceramente que eles possam voltar para nós vivos e com boa saúde”, declarou Jean-Noël Barrot.
Ainda nesta quinta-feira, os Guardas Revolucionários, o exército ideológico do Irã, saudaram o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza como uma “vitória” para os palestinos e uma “derrota” para Israel.
“O fim da guerra e a imposição de um cessar-fogo (…) constituem uma vitória clara e uma grande vitória para a Palestina, bem como uma derrota ainda maior para o monstruoso regime sionista”, disseram em um comunicado.
* Com informações de Michel Paul, Daniel Vallot, Rami Al Meghari e Sami Boukhelifa, correspondentes da RFI em Jerusalém, Tel-Aviv e Gaza
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Fonte: G1

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