Anúncio

Cuiaba - MT / 6 de março de 2025 - 18:11

Suriname deve chefiar OEA após anos turbulentos com Luis Almagro

A eleição para a nova chefia da Organização dos Estados Americanos, a OEA, ocorre apenas na próxima segunda-feira (10), mas um fator surpresa antecipou o praticamente incontornável resultado. Com a saída do Paraguai da disputa, anunciada há poucas horas, o Suriname deve assumir o posto pelos próximos cinco anos.

A aproximação entre o presidente paraguaio, Santiago Peña, e Donald Trump drenou apoios que o seu chanceler, lançado candidato, poderia ter mesmo de países vizinhos.

O fator Estados Unidos está no contexto da decisão dos governos de Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia e Uruguai, de esquerda, de apoiarem o Suriname publicamente. Brasília já havia comunicado o país vizinho reservadamente sobre seu apoio. A decisão dos governos-amigos de fazerem um anúncio conjunto foi costurada no Uruguai, durante a posse de Yamandú Orsi no último dia 1º.

O Suriname já tinha apoio majoritário das nações do Caribe. Nesta semana, somou também sinais verdes do Equador, da Costa Rica e da República Dominicana, todos estes países cujos governos não estão à esquerda. Agora, seu chanceler, Albert Ramdin, deve chefiar a OEA.

Ao longo dos últimos meses os dois países realizaram uma corrida por apoios. O voto para escolher o próximo secretário-geral da organização sediada nos EUA é secreto, e são precisos ao menos 18 apoios entre os 35 países-membros. Ainda que uma candidatura surpresa possa ser apresentada, diplomatas dizem que o nome de Ramdin já é certo.

O chanceler do Suriname, país exportador de ouro e petróleo e que convive em larga escala com o garimpo ilegal, ocupa o desde 2020, convidado pelo governo de Chan Santokhi.

A gestão assumiu após dez anos de governo de Dési Bouterse, a figura mais controversa do Suriname: eleito em 2010 e reeleito em 2015, ele liderou um golpe militar nos anos 1980 e governou como ditador. Já no período democrático, foi condenado pela execução de 15 opositores.

Esta será a primeira vez que uma nação caribenha assume a Seretaria-Geral da OEA, pela qual passaram majoritariamente nações da América do Sul. O Suriname está geograficamente nesta região, mas é considerado caribenho e compõe a Caricom, Comunidade do Caribe.

Mais do que isso, Ramdin tem larga experiência na OEA, já que foi secretário-geral-adjunto por dez anos, de 2005 a 2015. Uma de suas principais atuações foi no Haiti, país que em 2010 viveu um terremoto, um surto da cólera e a tentativa de realizar eleições para apaziguar uma transição democrática que desde os anos 1980 falhava. Ramdin divide opiniões no país. Há quem o descreva como alguém que não fez questão de incluir os haitianos nas decisões sobre o próprio Haiti.

Ele assumirá a chefia da OEA sob a dúvida central de qual alinhamento demonstrará diante das políticas de Trump nos EUA, justamente o que drenou possíveis apoios ao Paraguai.

Ao anunciar a saída do país da corrida, Santiago Peña disse que “de forma abrupta e inexplicável países amigos da região modificaram o compromisso inicial com nosso país”. Ele se referia ao grupo puxado pelo Brasil. O contexto impõe um desafio na relação Brasília-Assunção. Lula e Santiago Peña não residem no mesmo espectro político, mas sempre demonstraram boa relação, inclusive para fazer avançar os acordos sobre Itaipu, e Peña se mostra um admirador do petista.

Assunção vinha atuando, junto com a Argentina, como uma frente pró-Trump na região, inclusive, como mostrou a reportagem, barrando debates regionais que pudessem contrariar o republicano.

Mas sob reserva diplomatas que tratam dessa questão relatam que uma série de ações prévias do Paraguai já tiravam a força de sua campanha. Entre elas, os fatos de o país ter sido o único a romper com o consenso sobre o debate do orçamento da organização para 2025 e de ter lançado sua candidatura durante a Assembleia Geral da OEA realizada justamente em Assunção no ano passado, ação vista como deselegante.

O chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, já apareceu em fotos com Trump após o republicano ser eleito e fez diversas reuniões com legisladores republicanos em Washington.

A Venezuela, diante do terceiro e antidemocrático mandato de Nicolás Maduro, também será um tema de peso para o surinamês Ramdin. A OEA segue pautando debates sobre Caracas, especialmente a pedido de governos mais críticos da ditadura, ainda que não tenha diálogo real com o regime, que na prática já não integra a organização.

Muitas das delegações respiram com certo alívio diante da troca de comando na organização. Os anos com o uruguaio Luis Almagro na chefia da OEA foram turbulentos.

Diversos países-membros questionaram ações de Almagro como o apoio à autoproclamação de Juan Guaidó como presidente da Venezuela em 2019; a publicação de um relatório apontando fraude na eleição de Evo Morales na Bolívia em 2019; e o fim de uma missão anticorrupção em Honduras, terra frutífera para o narcotráfico.

Ele também é apontado como o algoz do brasileiro Paulo Abrão, que foi secretário-executivo da CIDH, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um braço da OEA, mas saiu do cargo no qual era bem avaliado por decisão de Almagro em meio aos anos da Presidência de Jair Bolsonaro. Uma investigação interna chegou a apontar danos morais, pessoais e profissionais contra Abrão, que foi indenizado.

Outra investigação não relacionada também apontou que Almagro violou regras éticas ao se envolver com uma subordinada. Ex-chanceler do ícone da esquerda regional José “Pepe” Mujica, Almagro foi descrito inúmeras vezes por antigos correligionários como “um lobo em pele de cordeiro”. Isso porque pertencia à Frente Ampla, coalizão histórica da esquerda que acaba de voltar ao poder no Uruguai e da qual ele foi expulso em 2018, já quando era secretário-geral da OEA. Na época estreitamente alinhado com políticas de esquerda, ele mostrou uma outra face ao chegar a Washington para chefiar a organização.

Ele chega ao final da gestão de dez anos (foi eleito em 2015 e reeleito em 2020) visto como uma figura disruptiva, em vez de agregadora, na organização que deveria reger laços nas Américas.

noticia por : UOL

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Anúncio

Cuiaba - MT / 6 de março de 2025 - 18:11

LEIA MAIS

Anúncio