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Cuiaba - MT / 30 de janeiro de 2025 - 19:05

50 escolas mais vulneráveis de SP terão gestão privada, diz secretário de Nunes

Mesmo sendo um dos pontos mais frágeis da campanha de reeleição de Ricardo Nunes (MDB), a queda de desempenho de ensino na rede municipal de São Paulo não abalou a confiança do prefeito em seu secretário de Educação, Fernando Padula.

Um dos poucos secretários a ser mantido no cargo no novo mandato, Padula, no entanto, foi cobrado pelo prefeito a melhorar os resultados educacionais da mais rica cidade do país. Uma avaliação do MEC (Ministério da Educação) mostrou que apenas 37,9% dos estudantes de 7 anos da rede paulistana estavam alfabetizados em 2023 —desempenho muito abaixo da média das escolas públicas do país, que tinham 56% das crianças alfabetizadas nessa idade.

O Ideb, principal termômetro da educação brasileira, também registrou piora de desempenho da rede municipal de São Paulo nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). O indicador caiu de 5,7, em 2021, para 5,6 no ano passado. Em 2019, antes da pandemia, a média era 6.

Com esse resultado, São Paulo ficou abaixo da média nacional das escolas públicas —que foi de 5,7— e atrás de capitais como Rio Branco (AC), Teresina (PI), Palmas (TO) e Boa Vista (RR).

“Esse é o nosso grande desafio. É o foco do prefeito na área da educação e será o meu também: a melhoria da aprendizagem”, disse o secretário em entrevista à Folha nesta quarta-feira (29).

Padula disse que vai entregar os compromissos assumidos pelo prefeito: levar a gestão privada para as escolas mais vulneráveis do município e universalizar o tempo integral para as turmas de pré-escola (que atendem as crianças de 4 e 5 anos) e do 1º e 2º ano do ensino fundamental até o fim de 2028.

“A gente precisa de alternativas para virar o jogo dos maus resultados que São Paulo vem apresentando. Então, eu vou buscar alternativas. Não pode ter preconceito e não tentar”, disse o secretário.

Padula não informou um prazo para apresentar a proposta de parceria público privada para as escolas. Disse apenas que os contratos não serão firmados neste ano, já que a prefeitura ainda está fazendo um estudo jurídico sobre o tema.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Resultados educacionais ruins

A melhoria da aprendizagem é o foco do prefeito e para mim também. Por isso, eu defini três metas para os próximos quatro anos: melhorar a alfabetização, garantir a aprendizagem adequada para cada etapa de ensino e a ampliação das matrículas em tempo integral.

É uma grande incógnita até para nós o motivo de a rede paulistana não ir melhor. A piora dos resultados pode ser consequência da pandemia, mas também está ligada à grande vulnerabilidade socioeconômica dos nossos alunos.

É comum a gente receber relatos de diretores de escola falando que a criança saiu da creche com uma fralda e voltou no dia seguinte com a mesma. Ou então de crianças que não tem nem mesmo banheiro em casa. A situação socioeconômica aumenta o desafio, mas não pode ser uma desculpa para não melhorarmos os resultados. Temos que trabalhar com essa realidade.

Nós temos uma rede potente, com profissionais de alta capacidade, diretores engajados, fizemos no ano passado um concurso para professores com prova prática, subimos o valor do piso (de R$ 3.845 para R$ 5.533), aumentamos o recurso para as escolas. Nós temos tudo que é preciso para virar esse jogo.

Gestão privada de escolas municipais

Vamos estudar como fazer e como definir quais serão essas 50 unidades. O prefeito foi eleito com esse compromisso e eu, enquanto secretário, vou pôr de pé esse compromisso.

Essa ideia vem da experiência exitosa que tivemos com o Liceu, lá no centro da cidade e que iria fechar. Nós estabelecemos quais eram as nossas regras, eles aceitaram e o resultado foi excelente.

Nós dissemos que as nossas premissas eram: seguir o protocolo de matrícula da prefeitura (por georreferenciamento), não ter mais alunos pagantes e usar o currículo, os materiais didáticos e uniformes da prefeitura.

Ainda não está definido como vamos escolher essas escolas, se serão as que têm mais baixo rendimento no Ideb ou usar outro critério. Mas vamos fazer uma parceria para que 50 escolas com maior vulnerabilidade sejam atendidas por entidades parceiras, tal como ocorre com o Liceu. Ou seja, uma entidade sem fins lucrativos e com muita experiência em entregar uma educação de qualidade.

A gente precisa de alternativas para virar o jogo dos maus resultados que São Paulo vem apresentando. Então, eu vou buscar alternativas. Não pode ter preconceito e não tentar.

As parcerias já existem na saúde, na cultura. Nem por isso esses serviços deixaram de ser públicos. Por que não na educação? Temos que pôr o aluno em primeiro lugar e não a ideologia corporativa.

Tempo integral

Nós temos o programa São Paulo Integral, que está agora com 93 mil estudantes matriculados em tempo integral. Em 2021, eram apenas 31 mil matrículas. Ou seja, já demos um salto grande e vamos continuar crescendo para alcançar a meta colocada pelo prefeito [em quatro anos, garantir o ensino integral a todos os alunos da pré-escola; até 2023, apenas 11% das crianças de 4 e 5 anos nessa etapa estudavam em período integral].

Nós vamos adotar todas as estratégias possíveis para isso, seja construindo novas unidades ou ampliando as que já existem. Em quatro anos, vamos ter todas as crianças da educação infantil e do ciclo de alfabetização (do 1º e 2º ano do fundamental) estudando sete horas por dia nas nossas escolas.

Alfabetização

No segundo semestre do ano passado, nós iniciamos uma ação de ter professores de apoio para todas as turmas de 2º ano do ensino fundamental e isso foi muito bem aceito pelas escolas. Esse profissional ajuda o professor regente a consolidar a alfabetização das crianças em um ano que é crucial para toda a trajetória escolar.

Então, nós vamos manter esses professores de apoio em todas as turmas de 2º ano. Até porque nós vamos mudar o ciclo de alfabetização na rede municipal, agora os alunos precisam estar alfabetizados até o fim do 2º ano, ou seja, aos 7 anos. Não mais ao fim do 3º ano, como era até então.

Nós já orientamos as escolas de que as crianças precisam estar alfabéticas até o fim do 1º ano e alfabetizadas até o fim do 2º ano. Essa é a régua do país inteiro e nós precisamos seguir.

Bônus por desempenho

Vamos mudar o cálculo do PDE (Prêmio de Desempenho Educacional) para bonificar os professores das escolas que tiverem melhora no desempenho e conseguirem atingir as metas de aprendizagem que forem estipuladas [atualmente, o bônus é calculado pelo resultado da escola na redução de abandono e reprovação de estudantes e na assiduidade do profissional; segundo a prefeitura, desde que o prêmio foi instituído o número de faltas dos professores caiu na rede municipal].

Ainda não definimos como vamos calcular as metas, se será usando o Ideb ou Idep [indicador municipal]. Mas vamos fazer uma mescla de vários critérios para bonificar, vamos continuar premiando os professores com maior assiduidade e também aqueles que conseguiram melhorar o desempenho dos alunos.

Não pode haver mais resistência dos profissionais da educação à avaliação. Nós podemos até discutir como melhorar as avaliações, mas não podemos virar as costas para elas. Nós não resolvemos a febre quebrando o termômetro, é preciso medir para saber em que situação estamos.

O Conselho Municipal de Educação se reuniu para debater como vamos cumprir a lei da proibição do uso de celular na rede municipal e deve aprovar uma deliberação nesta quinta-feira (30). Lei é lei, temos que cumprir.

Na minha opinião, e acredito que seja a de muitos diretores também, é de que o celular não deveria nem ir para a escola. Se houver alguma atividade em que ele é necessário, o professor pode pedir com antecedência para que levem para a escola ou então usar os tablets que estão disponíveis.

Eu acho que a proibição vai ser muito benéfica para a aprendizagem, para a gestão da escola e até mesmo para o aspecto socioemocional dos alunos.

noticia por : UOL

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