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Cuiaba - MT / 22 de janeiro de 2025 - 7:52

O Trump que caça mulheres e crianças em igrejas solta bandido supremacista

A VONTADE DO POVO
No Artigo 10 dos 85 que compõem “O Federalista”, escreve James Madison que o poder das facções tem de ser contido por uma minoria que governa com a delegação do povo, cujas opiniões “são filtradas por uma assembleia escolhida de cidadãos, cuja sabedoria pode melhor discernir o verdadeiro interesse do seu país e cujo patriotismo e amor à justiça serão menos propensos a sacrificá-lo a considerações temporárias ou parciais.” Escreve ainda: “Sob tal regulação, é bem possível que a voz pública, manifestada pelos representantes do povo, seja mais consoante com o bem público, que se manifesta pelo próprio povo, convocado para esse fim”. A afirmação de Madison constitui a fina flor do bom pensamento conservador, que nada tem a ver com o esgoto a céu aberto do bolsonarismo, do trumpismo e de suas respectivas milícias. No texto, noto, Madison chama “democracia” àquilo que hoje chamamos “populismo” e “República” ao que entendemos por democracia. Trata-se de uma receita que combate tanto as revoluções como as oligarquias ou as milícias.

QUAL REBELIÃO?
Pois bem, meus caros. Os meios contemporâneos de expressão da vontade tendem, por sua própria natureza, a fragilizar os instrumentos de representação e mediação. Aquele homem-massa, antes acomodado em suas aspirações e afazeres, como queria Ortega y Gasset, é chamado à rebelião; quer ter uma existência “além de si mesmo”, para ficar nos termos do autor. Observem: Madison e Ortega y Gasset jamais frequentariam a galeria de referências de esquerdistas revolucionários, cuja militância é disruptiva, rompedora da ordem. O pensamento que classifica a si mesmo de “progressista”, identificado com teses à esquerda, não estava preparado para uma rebelião que hoje é conduzida não por conservadores, mas por populistas reacionários. Ela destrói as mediações com que o conservadorismo civilizador procurava conter rebeliões, revoluções e facciosismos. É reacionária e, pois, também disruptiva. É a revolução rumo ao passado idílico e falso, com os instrumentos da tecnologia contemporânea.

O FIM DE UMA ILUSÃO
O torpor que as esquerdas experimentam, e não só no Brasil, deriva do fim de uma ilusão: a de que a “rebelião das massas” — o seu despertar, que Ortega y Gasset não apreciava — endossaria necessariamente seus valores e sua metafísica. Dotados de mais instrumentos para interferir na vida pública; superando, pois, os aparelhos de que dispunha aquela tal burguesia para conter os apetites violentos; libertos das ilusões da ideologia — burguesa, claro! — que lhes emprestaria uma falsa consciência, os indivíduos, então, escolheriam o caminho da revolução para a frente. Errado! Assiste-se, como é notório, à disrupção para trás. Goste-se ou não dos pressupostos do marxismo e de seus derivados no pensamento contemporâneo, o fato é que as prefigurações e ilusões da esquerda, a exemplo do que se dá, no terreno adversário, com o pensamento liberal, são caudatários do racionalismo, da tentativa de organizar a sociedade segundo o saber científico, da prevalência desse saber sobre o preconceito.

UMA LIÇÃO AMARGA
O Brasil de 2013 é eloquente. A extrema-esquerda recorreu às redes para convocar o homem revoltado — e “não era pelos 20 centavos”, certo? Nada de Madison ou de Ortega y Gasset com sua pregação antirrevolucionária… Três meses depois, a reação engolfava a “revolução”, com linguagem também disruptiva, mas essencialmente irracional. Também não era pelos 20 centavos. Era contra os instrumentos de mediação do poder — qualquer um. A Lava Jato viria pouco depois para oferecer um certo horizonte utópico àquele homem-massa que passou a ambicionar uma existência além de si mesmo. O Brasil politizava-se como nunca. Para matar a política.

NINGUÉM SABE AINDA
Como as democracias poderão responder à rebelião em massa dos homens-células, organizados em rede e estimulados a lutar contra as conquistas da democracia? Ninguém sabe ainda. Mas sei qual deve ser a resposta aos vândalos da ordem constitucional, que querem sacrificar o regime de liberdades públicas em nome da suposta vontade popular: têm de sofrer as sanções previstas nas leis.

TRUMP REELEITO, BOLSONARO NA CADEIA
As notas que, acima, vão em negrito são parte de um artigo que escrevi no dia 27 de fevereiro de 2020. Estavam, então, em curso os ataques do bolsonarismo e do trumpismo às instituições de seus respectivos países. Nem um nem outro foram reeleitos. O americano promoveu o assalto ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e está de volta à Casa Branca para barbarizar. Bolsonaro foi a causa do ataque às sedes dos Três Poderes e está inelegível, depois de quatro anos ininterruptos de discursos golpistas e de articulações efetivas para, num primeiro momento, suspender a realização do pleito de 2022 e, depois do insucesso dessa articulação, impedir a posse do eleito. Responderá por seus crimes na Justiça e certamente será condenado e preso. Há reacionários irresignados no Brasil — alguns em pele de liberais, mas com jeito de lobo, pelo de lobo, presas de lobo, focinho de lobo e cheiro de lobo; devem ser lobos — com o fato de que a nossa institucionalidade, de que o STF é guardião, não permite que a horda se sobreponha às leis. Nos Estados Unidos, hoje, ninguém sabe.

noticia por : UOL

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Cuiaba - MT / 22 de janeiro de 2025 - 7:52

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