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Cuiaba - MT / 20 de janeiro de 2025 - 14:58

A democracia mais longeva do mundo: como os EUA passaram por 60 eleições presidenciais sem interrupção

Quando Donald Trump assumir a Presidência dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20), a democracia mais antiga em funcionamento vai estender ainda mais a sua trajetória duradoura.

Considerado um modelo de estabilidade política, os Estados Unidos realizaram 60 eleições presidenciais consecutivas desde 1789. Um histórico impressionante, principalmente por se tratar de um país que passou por uma série de “testes democráticos” nesse período — como a Guerra Civil, a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra do Vietnã e os ataques às Torres Gêmeas, entre outros eventos.

A força da democracia americana pode ser atribuída a uma combinação de fatores que garantiram sua longevidade mesmo em momentos de tensão. E o mais importante: sem rupturas institucionais significativas.

A explicação começa pela própria posição geográfica dos EUA. “Protegido” das outras grandes potências por dois oceanos, o país nunca sofreu invasões em seu território rico em recursos naturais (o que reduziu sua dependência internacional).

Mas o grande trunfo dos Estados Unidos foi o contexto de sua fundação, marcado pelo compromisso de criar um sistema que garantia direitos e equilibrava interesses e visões políticas. Para preservar esses princípios, os americanos contaram com líderes que estabeleceram precedentes fundamentais. 

O principal deles foi George Washington, que recusou um terceiro mandato como presidente e inaugurou a tradição de transferir o poder de forma pacífica. Outra figura emblemática foi Abraham Lincoln, cuja defesa da realização de eleições durante a Guerra Civil fez dele um símbolo da continuidade democrática.

A Constituição é outro elemento decisivo e que serve de base para a solidez das instituições americanas. Ao mesmo tempo concisa e flexível, ela garante direitos e permite ajustes ao longo do tempo, por meio de emendas como as que resultaram na abolição da escravatura e no voto feminino.

O federalismo também tem um papel relevante nessa equação, porque concede autonomia aos estados para que resolvam boa parte de suas questões sem depender do governo central. Essa estrutura não só descentraliza o poder como evita conflitos internos desnecessários.

Por fim, há quem veja no bipartidarismo, iniciado no século XIX, outro elemento facilitador da democracia americana. O modelo diminui a fragmentação política e cria um ambiente de previsibilidade, em que as disputas são resolvidas em um cenário minimamente estável.

Para cientista político, democracia dos EUA é um projeto filosófico e político 

Professor de Ciência Política na Catholic University of America, em Washington (onde também cursou o doutorado em Teoria Política), o brasileiro Gustavo Adolfo Santos destaca o fato de que os americanos construíram uma nação a partir de um projeto filosófico e político.

“Essa ideia já está manifestada na Declaração da Independência [1776], que não tem uma função institucional e não é um texto legal como a Constituição, mas é um documento simbólico, espiritual. Ela é baseada em princípios filosóficos e políticos: direitos humanos universais, liberdade, busca da felicidade, governo por consentimento, autonomia, representação”, afirma.

Santos também chama a atenção para os hábitos, iniciados ainda na época colonial, de organização, autogoverno e participação da sociedade nas decisões locais.

“As pessoas, se precisassem de uma coisa, não ficavam pedindo para o governo central fazer. Ou faziam elas mesmas, ou faziam no âmbito local, com suas famílias, vizinhos, associações e grupos de interesse”, diz. 

O professor ainda cita Alexis de Tocqueville (1805- 1859), historiador francês que conheceu in loco a nova democracia surgida nos EUA e desenvolveu teorias sobre o sistema. 

“Quando Tocqueville observa essa prática de resolver os problemas na esfera mais próxima possível, de tomar a liderança do próprio destino e de sua comunidade, ele percebe que é uma forma de reduzir o poder do governo central”, afirma. 

Governo Federal ganhou mais poder a partir do século XX 

Gustavo Adolfo Santos diz que, no século XX, o Poder Executivo ganhou mais peso e autonomia com relação ao Congresso. Ao mesmo tempo, o ativismo judicial também cresceu, muitas vezes abrindo espaço para interpretações ideológicas da Constituição (outro documento sagrado para os americanos).

Essas mudanças causaram um desequilíbrio na dinâmica idealizada pelos chamados “Pais Fundadores” dos EUA, porém ainda não foram capazes de abalar a democracia — ao contrário do que afirma a opinião pública internacional, especialmente após a ascensão de Donald Trump, considerado um líder com tendências autoritárias por esses setores. 

Para o cientista político, é difícil negar o papel de Trump na invasão do Capitólio. Mesmo para uma parte dos conservadores, ele diz, foi um acontecimento muito grave, assim como a tentativa de alterar o resultado da eleição de 2024 através da manipulação do Congresso.

No entanto, Santos lembra que o republicano venceu duas eleições e perdeu uma. E, desta vez, teve ainda mais votos do que na primeira campanha. “Isso mostra que o sistema não foi abalado. A democracia americana ainda está funcionando”, afirma.

noticia por : Gazeta do Povo

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Cuiaba - MT / 20 de janeiro de 2025 - 14:58

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